terça-feira, 23 de setembro de 2014

A Cultura na luta política

Por António Marques Bessa

Depois do teórico marxista António Gramsci ter revolucionado a teoria do assalto ao Estado, com a abertura de uma nova frente na Cultura, esta deixou de ser um modo de vida, um enfeite de burgueses, um produto de consumo, para se transformar num campo de batalha, um instrumento ao serviço da Revolução Marxista. Ao atacar num ponto inesperado da sociedade global, o aparelho marxista ocupa uma zona sem significado em termos militares, mas decisiva em termos antropológicos e sociológicos. Na verdade, é na Cultura que enraíza a estrutura dos valores, o carácter nacional, os gostos e as tendências, o modo de conceber o mundo e a vida. É uma herança cumulativa, como a caracterizou Lorenz, formada por todo o equipamento material e espiritual que a sociedade possui, e com o qual responde aos desafios internos (crises) e externos (naturais e sociais). A Cultura é, por conseguinte, aquilo que de mais precioso tem um Povo ou uma Etnia. É, por um lado, o traço que o distingue dos outros povos, com costumes e mundividências distintas, e, por outro, a característica do processo de hominização. Embora os animais tenham tradições, inventem técnicas e comuniquem processos por mecanismos de difusão social, não possuem uma tradição cumulativa, quer dizer, as invenções e os conhecimentos não se conservam porque não há possibilidade de os acumular.

Ora, o que Gramsci faz é inovar no leninismo, ao introduzir a possibilidade de controlar o Estado a partir da Cultura. No reducionismo marxista, cultura é uma superstrutura gerada pela infra estrutura económica. As relações de produção, de exploração, isto é, o sistema económico, determinam um supersistema de justificação, que está ao serviço do explorador e serve para dominar intelectualmente o explorado. A esse sistema, integrado pela religião, educação, arte, meios de comunicação, etc., chamam os marxistas Cultura.

Na tradição leninista derrubava se o Estado a partir da Economia, e assim se punha fim à Cultura, que não passava de um gigantesco sistema de justificação ideológica. Com Gramsci altera se o esquema revolucionário. Para ele é fundamental dominar primeiro a Cultura "burguesa" e substituí-la progressivamente por uma "cultura proletária". As transformações e substituições operadas, assim, na "cultura burguesa", irão influenciar a infra estrutura económica, as relações de produção, o sistema social, mudando a mentalidade dos cidadãos. Só depois desta operação é que se deve conquistar politicamente o Estado, visto que este se encontra desarmado. A resistência, sempre baseada nas estruturas culturais de valores, nos conceitos internos da Cultura, sem esse suporte, nem sequer poderia existir. Daqui que o caminho para o poder nos Estados burgueses, desde há muito, seja este: assalto à Cultura, abastardamento de todas as características positivas do carácter e imagem nacionais, substituição de padrões nacionais por elementos culturais importados, enfraquecimento e eliminação da resistência dos intelectuais patriotas e, finalmente, domínio das principais alavancas da Cultura: meios de comunicação, universidades, institutos e instituições, editoras, escolas, arte, etc.

PORTUGAL – UMA CULTURA IGNORADA

A tarefa de conquista da "cultura burguesa" é cometida por Gramsci aos "intelectuais orgânicos". Materialistas que, cumprindo os objectivos estratégicos do partido comunista, paulatinamente conquistam posições no «establishment» cultural, e programam a substituição da cultura burguesa pela nunca demasiado falada "cultura proletária".

Em Portugal esta estratégia teve uma aplicação exemplar. Iniciada em tempos de Salazar teve os seus frutos maduros ainda antes de Abril de 1974. A Direita portuguesa, bem se queixava da "ditadura intelectual da esquerda", mas infelizmente ignorava a concepção geral da manobra e não possuía capacidade para responder a um ataque concertado num domínio que não entendia.

Com a notável excepção de uns quantos antropólogos portugueses (Jorge Dias – vergonhosamente silenciado –, António Carreira), filósofos (Álvaro Ribeiro, José Marinho, Pinharanda Gomes e Orlando Vitorino) e historiadores, que conformaram uma linha de resposta ao desmantelamento cultural português, respondendo no campo da Cultura ao assalto na Cultura, ninguém mais se opôs correctamente a essa máfia de "intelectuais orgânicos", autênticas prostitutas, adoradoras de tiranos, como lhes chama Jean Cau. A Cultura portuguesa morria nos seus elementos característicos e só um aviso aqui e ali alertava para o perigo.

Com o 25 de Abril, que completa o domínio marxista do Estado, os intelectuais orgânicos transferem se da Cultura para a Administração. Com o seu trabalho bem programado, o Povo envergonhava se de tudo quanto é marcadamente seu: a sua história, os seus heróis, os seus poetas, e passa a admirar e a aderir a valores que não são seus, a elementos culturais abastardados, que lhe vêm de Moscovo, de Washington, com a marca da novidade, da "libertação" e do progresso.

A Cultura foi um campo de luta e o Povo perdeu. O escol que a devia defender, como património material e espiritual da comunidade, não o soube fazer: foi derrotado.

QUE FAZER?

Ao domínio da Cultura, entendida como "cultura burguesa" por ignorância e reducionismo, há que responder com um ataque no campo da Cultura, entendida em toda a sua amplitude.

Para isso há que concentrar esforços, criar uma corrente de pensamento, iniciar o desbloqueamento interno, denunciando o trabalho dos "intelectuais orgânicos" e a sua sistemática prostituição. Assim, é urgente avançar com o planeamento do Instituto Padre António Vieira, como centro de investigação para a Cultura Portuguesa, bem como centro de difusão e educação. Aí se devem integrar os intelectuais ainda vivos e interessados em desbloquear e revigorar a cultura nacional. A metodologia pode variar (seminários, palestras, cursos, aulas, grupos de trabalho), mas o que deve estar presente no espírito de todos é que o assalto à cultura não se detém com balas de G3.

Além do Instituto, é indispensável uma associação político cultural, que utilize os resultados da investigação e difunda uma prática necessária e desalienante. Uma revista de estudos e uma editora são dois instrumentos necessários, que se podem inserir quer no instituto, quer na Associação.

Para lá disso, devia constituir objectivo a largo prazo a organização de uma Universidade Livre, primeiro com os professores disponíveis funcionando experimentalmente em regime de cursos supletivos, e depois abarcando as disciplinas sociais. Garantir se ia deste modo um alto nível didáctico num país que não o possui e, fundamentalmente, tinha se a possibilidade de preparar as bases de um autêntico combate pela Cultura Portuguesa.

No ano zero do nosso país, o mais importante é, além de poder comer, poder pensar. E para isso é indispensável libertar a Cultura dos bloqueamentos e implantações que a abastardam. Aí, bem como na Economia (uma parte da Cultura), está a grande aventura dos patriotas: voltar a entregar Portugal aos portugueses.

Primeiros rumores de fascismo em Portugal

Por Barradas de Oliveira

Que é o fascismo? A pergunta impõe-se com actualidade flagrante em face da anunciada lei contra as organizações fascistas. Para se definir tal espécie de organizações, é necessário fixar previamente em lei o que é o fascismo e quais as organizações que por tal ideia se classificam. Não é de crer que a lei vá fixar de fascismo o conceito expresso em 1974 pelo Prof. Pereira de Moura, segundo o qual o fascismo correspondia à desorganização, ao desrespeito dos cidadãos uns pelos outros, ao que no Brasil se condensa expressivamente no termo bagunçada. Tal aspecto corresponde mais caracteristicamente, segundo a experiência histórica, aos períodos de decomposição demagógica, que impõem uma solução de autoridade, cesarista ou não, e esta sim, mais próxima do que foi o fascismo na evolução social do século XX.

Também há outra definição: a dos comunistas, que chamam fascistas a todos os sistemas e governos que lhes são contrários, desde o nacional-socialismo do III Reich alemão e o fascismo italiano – a partir do momento em que estes deixaram de ser seus aliados contra as democracias ocidentais e a propaganda moscovita deixou de os enquadrar, como fazia até aí, nos estados de trabalhadores – até o capitalismo democrático e o socialismo reformista. Havia aqui, nítida, a intenção de denegrir a única força com valor revolucionário junto da mocidade e das massas, e portanto o único concorrente perigoso. A dificuldade estava só em baralhar tudo na confusão detestável, gritando repetidamente as mesmas acusações conforme a técnica da lavagem de cérebros colectiva.

É claro que o processo tem os seus aspectos negativos e um deles consiste em estender o apodo condenatório ao próprio partido comunista. Foram, salvo erro, os marxistas chineses quem primeiro chamou social-fascismo ao comunismo centrado na Rússia.

Para além desses aspectos polémicos, porém, há uma realidade histórica e cultural, surgida na Itália no primeiro quartel deste século e criadora de um determinado sistema de acção, ao qual corresponde, para além do restrito campo da política, um estilo de vida. Será esse fascismo que o legislador há-de definir com a maior precisão, para não cairmos na asserção estúpida, cómoda e perversa: - fascismo é tudo que for contra nós.

Um dos primeiros trabalhos a apreciar em Portugal sobre o fascismo foi um ensaio do diplomata Valentim da Silva, que tivera ao que se nos afigura, oportunidade de conhecer in loco o aparecimento do movimento italiano. É um trabalho objectivo, sereno, documentado, de um liberal que se atém à desapaixonada observação dos factos. Foi publicado no Instituto de Coimbra.

Descreve o ensaísta a situação política da Itália desde o princípio do século até às vésperas da I Grande Guerra:

“Num ambiente de artificioso parlamentarismo, sem correntes de definidos princípios, vivendo na subserviência das clientelas, os partidos constitucionais, logo no começo do século XX, entravam num período de decomposição.”

Alastrou a seguir, no meio da partidocracia em putrefacção, o fermento da demagogia socialista, a tentar impedir primeiro a participação do país na guerra e, depois, a reclamar contra o desprezo a que ele fora relegado pelos aliados nas conversações da paz. E ao mesmo tempo, como lhe está na tentação, a expulsar os patrões das fábricas, com as naturais consequências:

“Estavam de facto os operários senhores dos instrumentos de produção, objectivando assim o dogma marxista. O colectivismo revolucionário dava o seu primeiro passo, mas que de proveitoso daí resultava? Passadas semanas, essas fábricas não laboravam, porque o operário, entregue a si mesmo, ficava sem força dirigente que lhe disciplinasse o esforço; não laboravam porque não tinham matérias-primas que as alimentassem; não laboravam porque lhes faltava o capital que as impulsionasse; não laboravam e por isso nada produziam, tornando-se não fontes de rendimento, mas valores inúteis sem significado económico. Eis o desmanchar da utopia que o próprio Lenine confessava nos últimos dias da sua vida, escrevendo no jornal Krasnaia Nov: «um proletariado não pode desenvolver-se sem auxílio do capital, e este antes de ser um inimigo é um aliado necessário; um estado inevitável. Basta de ilusões; é ridículo fechar os olhos à verdade».”

Nesse ambiente se enquadram as violências próprias da hora das desordens, com especial relevância em Bolonha e em Ferrara, “onde se mata e saqueia em nome do comunismo triunfante! Em Turim, as agressões a oficiais que vieram da guerra são constantes: o ministro da Guerra ordena aos oficiais que se defendam à mão armada. Numa província do norte há todos os dias incêndios, lançados pelos socialistas, cujos prejuízos são avaliados em 11 milhões de liras. Em 1920 chegam a estar em greve 1045733 trabalhadores rurais e 1267935 operários, isto é, quase dois milhões e meio de homens em agitação.”

Os ataques pessoais completavam o quadro até nos meios rurais, que Pietro Gorgoloni descreve assim:

“O camponês que não obedecesse imediatamente às ordens do comité revolucionário era punido. Matavam-se-lhe os animais; incendiavam-se-lhe as searas; insultava-se-lhe a mulher; maltratavam-se-lhe os filhos. Se quisesse recorrer à farmácia ou ao médico, não o podia fazer, mesmo em casos graves. Do inquérito feito verificou-se que proprietários houve que, para não serem perseguidos, tiveram de pagar milhares de liras. Cita-se mesmo o caso dum camponês de Cavarzero que teve de pagar uma pesada multa por ter obstado a que uma sua irmã se deixasse cortejar por um chefe dum sindicato socialista.”

Foi esta sociedade de euforia socialista subsequente à decomposição partidocrática que deu origem à reacção fascista, a qual surgiu, impetuosa e ardente, por toda a Itália. Não ainda como partido político, formado à luz de uma doutrina, orientado por um plano definido. Era antes uma reacção instintiva, digamos biológica, dum organismo nacional ameaçado de desintegração e morte. Certo o fascismo havia de procurar depois uma sistematização ideológica, em que se integraram orgulhos do velho nacionalismo oitocentista, ânsias de reforma social e necessidade de ordem, de disciplina, de autoridade. Mas antes disso, quando em Março de 1919 surge o primeiro “Fascio di combattimento”, pergunta Valentim da Silva:

“Qual o seu objectivo? A que fins visava? Trazia já ideias políticas no seu programa? Não. Apenas afirmações patrióticas sem preocupações doutrinárias. O «Fascio di combattimento» surgia como um produto gerado na instintiva defesa individual contra os ódios, as violências, as perseguições que, dia a dia, nos campos, nas comunas e nas cidades o comunismo ateava.”

Poderia em face destes sucessos apresentar-se a hipótese de ser o fascismo a planta que brota naturalmente da esterqueira em que se decompõem as partidocracias e a incapacidade socialista. Haveria depois que verificar se fora assim apenas na Itália ou se não viera a suceder o mesmo noutras nações. Agora, porém, estamos apenas no caso italiano.

Reacção nacional, contra a desordem dos partidos e a demagogia revolucionária, o Fascismo, ao condensar-se em sistema doutrinário, haveria de assentar em primeiro lugar no Nacionalismo, que defende o primado do interesse nacional; depois na ordem dos valores reais da sociedade (e não na ordem dos valores meramente abstractos); finalmente, na projecção revolucionária através de estruturas disciplinadas. Como quer que seja, primeiro as realidades, depois a doutrina.

Foi certamente mais pelos resultados práticos na vida italiana do que pela sua contextura doutrinaria que a governação fascista italiana chegou a ser apontada em Portugal por um dos mais inteligentes e dos mais combativos políticos da I República, o engenheiro Cunha Leal, senão como exemplo a copiar, pelo menos como lição a estudar. Foi ele que afirmou num discurso em Braga, na tarde de 26 de Abril de 1926, depois de amargas considerações sobre o caos da política portuguesa de então: - “Mas a Itália sofreu piores e mais fundas convulsões a que só agora Mussolini está começando a pôr termo.” Haviam já passado quatro anos após a marcha sobre Roma e estávamos a um mês do levantamento do 28 de Maio, naquela mesma cidade de Braga…

Por hoje ficaremos nas causas determinantes do fascismo. Veremos depois como ele passou do ciclo da necessidade para o ciclo da identidade.

A essência do fascismo (excertos)

Por Giorgio Locchi (traduzido por Rodrigo Nunes)

«O recente reflorescer dos estudos históricos sobre o “fenómeno fascista” não comportou até agora nenhum progresso digno de registo e inclusivamente têm contribuído para obscurecer o problema, comprometendo o que de válido, e era muito, se havia conseguido nos finais dos anos 50. A razão não é difícil de encontrar: não se trata de um interesse histórico mas de um interesse político e partidarista o que motiva a maior parte dos estudiosos, intérpretes em Itália das angústias e preocupações de um sistema em crise. A paixão política e as preocupações de ordem moral têm toldado (quase sempre) nos estudiosos do sistema fascista o espírito de observação, paralisando as suas faculdades de dedução tornando o objecto de estudo mais confuso que esclarecido. Agora, também a História, na medida em que deseje ser ciência, deve procurar proceder “sine ira et studio” como pretendia Spinoza, admitir que só pode ser ciência se for “wertfrei”, isto é, isenta de preconceitos de valor. O “fenómeno fascista” faz parte do passado e, como tal, pode ser objecto de estudos históricos, o mesmo é dizer: desapaixonados. Sem dúvida o “fenómeno fascista” prolonga-se de alguma maneira no presente (como ocorre com o resto do passado histórico) e enquanto tal suscita uma tomada de posição política, mas essa atitude deve ter lugar fora do estudo, já que de outra maneira se arrisca a basear-se na ignorância existente, mais ou menos ampla, sobre o “objecto” real.

A verdade é que hoje, trinta e cinco anos depois da queda dos regimes fascistas, por factores externos, o “fenómeno fascista” está presente sobretudo como um fantasma dos seus adversários, e isto a tal ponto que o estudioso actual está, mais que nunca, exposto ao perigo de dirigir a sua atenção sobre o “objecto” puramente fantasmagórico.

No período pré-bélico, bélico e nos pós guerra imediato, a presença do “fenómeno fascista” situava-se plenamente na realidade objectiva e os investigadores tinham menos possibilidade de incorrer em falta na hora de determinar a natureza do objecto sujeito a estudo. Ainda quando sucedia deformarem as suas conclusões quase sempre se tinha a impressão que, na realidade, haviam reconhecido, mais ou menos, a verdade, inclusive se às vezes se tivessem esforçado por distorcer ou até ocultá-la, por medo (político) de que a verdade pudesse fascinar mais do que provocar repúdio.»

(…)

«Nas últimas três décadas sucedeu que para a falsificação do discurso sobre a natureza do “fenómeno fascista” têm contribuído fortemente inclusive aqueles que, por tradição ou por instinto, haviam estado ainda dispostos a reconhecer-se como fascistas. Isto é perfeitamente compreensível, por outro lado, já que a partir de 1945 se o fascismo tenta desenvolver uma acção política vê-se constrangido a realizá-la debaixo de uma falsa bandeira e deve, ao menos publicamente, renegar aspectos fundamentais do discurso fascista, ao menos verbalmente, sacrificando-os ante os princípios de uma ideologia democrática, como de maneira idêntica, debaixo do império romano, os cristãos deviam oferecer sacrifícios ao César enquanto divindade. Inevitavelmente, esta atitude forçada do fascista-político teve o seu reflexo sobre a actividade do estudioso do fascismo que analisa a sua história, sempre por causa da deplorável incapacidade em distinguir entre estudo histórico e actividade política. Adicionalmente, a catástrofe da “guerra perdida” acentuou a polémica entre as distintas expressões nacionais do fascismo e – no interior dos diferentes fascismos nacionais – entre as várias correntes fascistas, cada uma delas reclamando-se como manifestação de um fascismo “bom”, prudentemente rebaptizado com outro nome e, à vez, atirando sobre outras a responsabilidade de um “mal”, geralmente identificado com formas do “fenómeno fascista” que haviam detido o poder e atraído sobre si a condenação universal…

A actual proliferação de obras que apenas aumentam a confusão e multiplicam a ignorância a propósito do “fenómeno fascista” torna, mais que nunca, necessário voltar a remeter-se àqueles estudos que foram realmente sérios, já que souberam ver e discernir o seu objecto, inclusive se, quem sabe, o fizeram de uma perspectiva que hoje consideramos desactualizada. No que concerne a obras válidas devidas a estudiosos que politicamente se situam no campo adversário, é preciso assinalar que são devidas geralmente a autores israelitas, muito interessados em compreender realmente o fascismo, para melhor combatê-lo. Citaremos como exemplos típicos o ensaio «Dos Românticos a Hitler» de Paul Viereck; o estudo fundamental de Georgy Lukacs «A Destruição da Razão» do qual existe um compendio intitulado «De Nietzsche a Hitler»; e também – sobretudo porque acumula uma rica documentação paralela – o «Hitler e Nietzsche» de Sandvoss. Lukacs e Viereck tiveram o grande mérito de ressaltar a origem primária, a «matriz» do “fenómeno fascista”, reencontrada em todo um importante filão da cultura alemã e europeia, se bem que, depois, obedecendo a evidentes fins propagandísticos, tenham introduzido no seu discurso o «leitmotiv» de uma espécie de ruptura qualitativa ente as origens culturais e filosóficas (das quais era difícil não reconhecer a importância e nobreza) e as manifestações políticas herdadas no século XX, caracterizada, segundo eles, pela falta de cultura, a barbárie intelectual e – em última analise – por uma vulgarização do pensamento dos «mestres», Friedrich Nietzsche e Richard Wagner em particular.

No pós-guerra está quase totalmente ausente uma reflexão histórica válida sobre o “fenómeno fascista” por força das coisas, isto é dizer, pela simples razão que já foi citada: quedou-se condenada à ilegalidade ou pelo menos à intolerância radical toda a manifestação de carácter genuinamente fascista. Mas já que a definição legal de fascismo apenas abarca, e mal, as formas particulares e conjunturais em que se encarnou entre 1922 e 1945 nos regimes onde teve o poder e ignora todas as outras manifestações (que existiram no mesmo marco cronológico mas que não ficaram comprometidas pelo exercício do poder) assim como – necessariamente – ignora todo o vasto campo cultural, filosófico, artístico que é a matriz do fascismo, criou-se uma certa margem de liberdade para aqueles autores que, embora só por razões tácticas, se reclamam seguidores das formas não incriminadas (por desconhecidas) do fascismo. Largamente determinadas por estas constrições externas, a obra destes autores, ainda que para leitores que se supõem à partida cúmplices, resulta dificilmente decifrável. Ainda mais ao restringirem a definição de fascismo falsificam o seu objecto arbitrariamente, reduzindo-o apenas a uma pequena parte do todo – incapaz de existir por si só – contribuindo para a confusão generalizada. É este o caso, em parte, dos trabalhos históricos de Julius Evola, quando se tomam como tal, já que na realidade os referidos trabalhos são fundamentalmente filosóficos ou políticos, expressão do ponto de vista de uma corrente singular, amplamente representada também entre os «volkische» da Alemanha austro-bávara com uma marcada tendência para o esoterismo e para reduzir a si mesma a definição do fascismo “válido”.»

(…)

«Entre os estudiosos que se reconheceram como fascistas ou pretensamente neutrais citaremos aqui, pela rara valia das suas teorias, sobretudo Adriano Romualdi, cuja obra é, sem embargo, fragmentária e incompleta, entre outras razões pela sua morte, ainda em plena juventude, mas que tem o mérito de ser quase a única em Itália a ter sabido abraçar a totalidade do objecto, havendo reconhecido perfeitamente a matriz do “fenómeno fascista” no discurso de Nietzsche e, por fim, de ter posto em relevo a lógica conclusão indo-europeia que, como veremos, é a típica “volta-às-origens-projecto-de-futuro” de todos os movimentos fascistas e ter compreendido assim que para o fascista a nação acaba por ser reencontrada, mais que no presente, num distante e mítico passado e perseguida depois no futuro, «Land der Kinder» (Nietzsche), terra dos filhos mais que terra dos pais (pátria, Vaterland).

Fundamental é também, mas de um ponto de vista totalmente distinto, a obra de Armin Möhler «Die Konservative Revolution in Deutschland, 1918-1933». Möhler centra a sua atenção sobre todas as formas não directamente comprometidas do fascismo alemão e põe rigorosamente entre parênteses o nacional-socialismo, limitando-se a dizer laconicamente que a Revolução Conservadora é para o nacional-socialismo aquilo que o trotskismo é para o leninismo. De facto, não faz senão pôr a «Weltbild» como manifesto comum a todos os movimentos fascistas (na acepção genérica do termo) que prosperavam na Alemanha, precisando admiravelmente como no seu seio se estruturavam toda uma série de «Leitbilder» que, ao serem acentuadas de uma maneira ou outra, tinham como consequência as diferentes formas ou correntes do fascismo alemão, isto é, da Revolução Conservadora, nacional-socialismo incluído (ainda que este se encontre explicitamente ausente no discurso de Möhler). «Weltbild» e «Leitbild» traduzem-se literalmente como «imagem do mundo» e «imagem guia» ou «imagem condutora»; mas na realidade convém falar, para uma melhor compreensão de «mito» e «mitificação».

Curiosamente a obra de Möhler encontrou um indispensável complemento na de um marxista francês que aplica os métodos da linguística estrutural à parisiense, Jean Pierre Faye, cujo documentadíssimo livro dedicado às linguagens totalitárias (o que para ele é equivalente a fascista) colmata as lacunas do livro de Möhler, inserindo o nacional-socialismo alemão e o fascismo italiano numa bem desenhada “topografia” da Revolução Conservadora e colocando o primeiro no “centro sintético” do campo conservador-revolucionário alemão. Faye, sem embargo, considera tão-somente o “discurso político” imediato dos movimentos fascistas de então, com as suas referências a problemas contingentes esquecendo a “visão do mundo” e portanto os “pontos de referência” intelectuais.

Somente aprofundando todos os estudos que temos citado (junto com outros do mesmo tipo) se pode chegar a alcançar uma real compreensão do “fenómeno fascista”. Não se compreende nada do fascismo se não se tem em conta, ou não se quer admitir, que o chamado “fenómeno fascista” não é outra coisa que a primeira manifestação política de um vasto fenómeno espiritual e cultural a que chamaremos «superhumanismo», cujas raízes estão na segunda metade do século XIX. Este vasto fenómeno configura-se como uma espécie de campo magnético em expansão, cujos pólos são Richard Wagner e Friedrich Nietzsche. A obra artística de Wagner e a obra poética/filosófica de Nietzsche exerceram uma enorme e profunda influência no ambiente cultural europeu de fim de século e na primeira metade do século XX, tanto no sentido negativo (causando repúdio) como no sentido positivo: inspirando seguidores (filosóficos e artísticos) e desencadeando acções (espirituais, religiosas e também políticas). A obra destes autores é, de facto, eminentemente agitadora; a sua importância está muitíssimo mais no “princípio” novo que introduzem a nível europeu que na sua própria expressão e nas primeiras aplicações que destes princípios se realizaram.»

(…)

«Por “princípio” entendo aqui o sentimento de si mesmo e do homem, que, quando se refere a si mesmo, se auto-afirma, é um “Verbo” (Logos); quando persegue um fim é “vontade” (pessoal e comunitária) e é também, imediatamente depois de sentimento, um sistema de valores.

O que através da obra de Wagner e Nietzsche entra em circulação e se difunde, com maior ou menor força, é, sobretudo, o “princípio” ainda que este seja imperfeitamente captado ou receba, por causa da sua novidade, interpretações e aplicações inapropriadas. Pelas vias mais estranhas, às vezes subterrâneas, este princípio foi transmitido e recebido e é só meio século depois do seu nascimento, quando começa a obter uma certa difusão social, quando começa a ser aceite e feito próprio por grupos sociais inteiros de homens que nele se reconhecem, às vezes sem saber inclusive quem pôs em circulação o novo “princípio”; assim se criaram os primeiros movimentos fascistas.

Entre “superhumanismo” e fascismo, mais que a relação eminentemente intelectual que para os marxistas existe entre teoria e prática, o que existe numa relação genética espiritual, uma adesão às vezes inconsciente do segundo ao “princípio superhumanista”, com as acções políticas que dele emanam. Quem sabe por isto se pôde dizer, ainda que a expressão não seja muito afortunada, que «o fascismo é acção à qual é imanente um pensamento», e se falou também da “mística fascista” e do carácter quase “religioso” do fascismo.

O princípio “superhumanista”, respeito do mundo que o circunda, torna-se o inimigo absoluto de um oposto “princípio igualitarista” que é o que caracteriza este mundo. Se os movimentos fascistas individualizaram o “inimigo” (espiritual antes que político) nas ideologias democráticas – liberalismo, parlamentarismo, socialismo, comunismo e anarquismo – é justamente porque, na perspectiva histórica instituída pelo “princípio superhumanista” estas ideologias configuram-se como outras tantas manifestações, aparecidas sucessivamente mas ainda todas presentes, do oposto princípio igualitarista; todas têm um mesmo fim com um grau diferente de consciência e todas elas causam a decadência espiritual e material da Europa, a “baixeza progressiva” do homem europeu, a desagregação das sociedades ocidentais.

Por outro lado, se podemos afirmar que todos os movimentos fascistas têm um determinante instinto “superhumanista” está também claro que tiveram um nível de consciência do mesmo variável; e é precisamente este distinto grau de consciência que se reflecte na gradual variedade dos movimentos fascistas e nas suas respectivas atitudes políticas. Não é de estranhar pois que se todos combatem as formas políticas do igualitarismo, às vezes não se definam contra as suas formas culturais ou se o fazem, fazem-no em menor grau e, depois, como sempre ocorre, entre o campo fascista e o igualitarista cria-se um campo intermédio, oscilante, com formas espúrias.»

PS: Note-se que sempre que aqui se fala de “superhumanismo” é para ser entendido no sentido “nietzschiano” do termo.

domingo, 21 de setembro de 2014

A verdade sobre a falsa direita

Por Alain de Benoist (traduzido por Rodrigo Nunes)

Por ocasião do centenário do caso Dreyfus, Jacques Chirac enviou aos descendentes de Emile Zola e Alfred Dreyfus uma carta na qual, lembrando aquele “colossal erro judicial e vergonhoso comprometimento do Estado”, afirmou que Emile Zola “na senda de Voltaire”, encarnaria “o melhor da tradição intelectual”. Obviamente poder-se-ia ironizar sobre a escolha dos autores de quem o presidente francês invocou os nomes. No fim de contas, ambos expressaram ao seu tempo opiniões que hoje se enquadrariam na lei Gayssot sobre o “incitamento ao ódio racial”. Em 1764 Voltaire escrevia no «Dicionário filosófico» que “os judeus são apenas um povo ignorante e bárbaro que há muito une a mais repugnante avareza e a mais abominável superstição a um ódio indistinto por todos os povos que os toleram e graças aos quais enriquecem”. Quanto a Zola, de «L’argent» à série de «Rougon Macquart», não existe um único estereótipo anti-semita que não tenha feito seu. Mas é claro que não é a estes aspectos que Chirac pretendia aludir. Longe de ser anedótica, a sua afirmação é no entanto reveladora. Qualquer homem de esquerda, de Lionel Jospin a Alain Krivine, de Robert Hue a Jack Lang, subscreveria voluntariamente a ideia de que Voltaire e Zola encarnariam o “melhor da tradição intelectual” francesa. Poucos homens de direita, no entanto, seriam levados a comungar desta opinião, mesmo porque sabem bem que Voltaire e Zola passam hoje por grandes antecessores da intelligenza de esquerda e que os intelectuais de direita dispõem geralmente de outras referências. Na circunstância, Chirac falou, portanto, como homem de esquerda. Como é isto possível? É-o simplesmente porque, no campo da cultura e das ideias, a direita da qual ele se declara diz regularmente as mesmas coisas que a esquerda. E di-las porque é historicamente saída da mesma matriz filosófica da esquerda, obra da filosofia das Luzes, que no período de dois séculos criou em sequência o liberalismo, o socialismo e o marxismo. É certo que partindo de uma herança comum uma “esquerda” e uma “direita” se foram progressivamente diferenciando. Mas é sobretudo no âmbito económico e social que as suas diferenças se afirmaram, porém muito mais pela escolha dos meios que pela determinação dos objectivos. No campo cultural e intelectual falam quase em uníssono. Demonstrou-o mais uma vez, a seu modo, a recente polémica sobre o «Livro Negro do Comunismo»: se tantos comentadores se empenham hoje em distinguir a “bondosa” inspiração do comunismo dos seus sanguinários êxitos é porque aquela inspiração não se diferencia fundamentalmente das suas. Declarando-a “boa” não nos demonstram a sua justeza. Limitam-se a confirmar poderem-se reconhecer nas ideias que o sustiveram.

“O problema permanente da direita e a fonte do seu mal-estar actual” escreveu Jacques Juliard, “reside no facto de que os seus valores de referência continuam a pertencer originariamente ao outro campo”. Ernst Jünger já o havia observado em 1945: “tem sido a esquerda a submeter a si a direita há mais de cento e cinquenta anos, não o inverso.” É absolutamente exacto, e é na lógica das coisas, a partir do momento em que aquela direita nasceu à esquerda. Tendo nascido à esquerda, com a ideologia dos direitos do homem da qual essa se reclama, não pode alimentar-se, sem mal-estar, nem da sua identidade nem do seu passado. E tendo nascido à esquerda sofre de um défice permanente de legitimidade. Tendo nascido à esquerda não pode fazer mais que colocar-se ao centro, um centro no qual, por sua vez, a esquerda, recuperada das esperanças revolucionárias e agora convertida ao reformismo social-democrata, se insere cada vez mais, com a consequência dramática de que este grande bloco central rejeita os descontentes impedindo uma verdadeira alternância.

É verdade que os conceitos de direita e esquerda nas mentalidades estão hoje ofuscados. Mas, se se ofuscam, isto acontece precisamente porque os grandes partidos que lhes envergam as cores têm tomado progressivamente consciência da inconsistência daquilo que os separa. Actualmente não há nada de substancial que diferencie os seus valores. As suas escolhas aproximam-se, os seus programas movem-se em direcção ao centro e a opinião prevalecente é que dizem todos mais ou menos a mesma coisa. Ainda ontem pensavam pertencer a famílias diferentes. Hoje percebem que apenas foram inimigos irmãos, que podem ainda polemizar sobre este ou aquele ponto mas fazem espontaneamente – com toda a naturalidade, sentir-se-ia dizer – frente comum para demonizar e rejeitar para o tenebroso extremo qualquer direita que seja uma direita verdadeira, com referências próprias, os seus autores, a sua antropologia, a sua própria sociologia, a sua própria visão do mundo, do homem e da sociedade.

É claro: como sempre existiram várias esquerdas, assim existem várias direitas: uma direita contra-revolucionária e uma direita revolucionária, uma direita republicana e uma direita monárquica, uma direita nacionalista e uma direita federalista, e assim sucessivamente. Mas pelo menos essas têm um ponto em comum: são direitas verdadeiras. A declaração de Jacques Chirac vale como sintoma, já que permite perceber a que direita ele pertence. Chirac pertence àquela direita que reprova as orientações económicas da esquerda mas que se escusa a contestar as suas orientações intelectuais e ideológicas. É uma direita que, no fundo, partilha a visão do mundo da esquerda, contentando-se por substituir a solidariedade pela apologia do lucro. É uma direita de esquerda. Em suma, não é de facto uma direita.

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Nota do tradutor: Qualquer semelhança entre a realidade acima descrita e a realidade portuguesa não é mera coincidência; não é pois de admirar que tanta gente que vota no PSD ou no CDS se julgue de direita. Daria um novo ensaio sobre a cegueira… a infelicidade é emporcalharem a verdadeira direita com tal associação.

Entrevista a Filipe Batista e Silva

Entrevista realizada pela redacção do Causa Nacional a Filipe Batista e Silva, redactor do extinto Portal Nacionalista

1. Podes falar-nos um pouco do teu trabalho no movimento nacionalista?

Apesar dos meus sentimentos patrióticos se terem começado a manifestar desde muito cedo, a verdade é que só entrei em contacto com o movimento nacionalista por volta dos 16 anos de idade. Esse primeiro contacto surgiu por intermédio dos canais de conversação na Internet, aonde conheci outros jovens nacionalistas. Com o tempo e através de leituras e novos conhecimentos, fui aprendendo a racionalizar politicamente os meus sentimentos patrióticos. Assim que me tornei num nacionalista convicto, por volta dos meus 18 anos, decidi que tinha que fazer alguma coisa pelo meu país. Queria sentir-me útil à Pátria. Nessa altura, o Partido Nacional Renovador (PNR) tinha acabado de se criar e não havia outros projectos de peso no horizonte. Desde sempre senti que o meu trabalho deveria ser canalizado para um partido político e não para um daqueles 1001 grupúsculos nacionalistas que vão aparecendo e desaparecendo fugazmente, por mais bem intencionados que os seus membros sejam. Integrei-me rapidamente no PNR e desde logo comecei a trabalhar activamente, nomeadamente com camaradas do Porto e de Aveiro. Desde essa altura que o meu activismo tem sido bastante polivalente. Fui fazendo um pouco de tudo: filiação de novos militantes, colagem de cartazes, distribuição de panfletos, colaboração em diversas revistas nacionalistas, tais como a JovemNR, idealização e produção de meios informativos (cartazes e panfletos do PNR), entre outras coisas…

No passado mês de Julho (2004) o Núcleo do Porto escolheu-me para coordenar o núcleo juntamente com o camarada Carlos Branco. Reformulei o núcleo de modo a torná-lo mais eficiente e activo. As metas que estabeleci para o núcleo do Porto são: continuar com campanha nacionalista regular, apresentar uma lista à Câmara Municipal do Porto e realizar conferências abertas à população.

De resto, iniciei em Agosto passado um novo projecto na Internet, o Portal Nacionalista (www.portugalsempre.com), que é um projecto bastante ambicioso e que me está a ocupar alguma parte do meu escasso tempo livre.

2. Como surgiu a ideia do Portal Nacionalista?

O Portal Nacionalista surgiu da necessidade de preencher um vazio que se fazia sentir na Internet portuguesa pela falta de um espaço de referência afecto à área nacionalista. Devo dizer que não detenho o exclusivo da ideia inicial. Tanto o José António como o Sérgio Martins estiveram na base da criação deste projecto e prestaram uma ajuda imprescindível.

O Portal Nacionalista nasceu, portanto, para ser um pólo de referência para todos os nacionalistas portugueses, pois foi concebido para ser uma fonte de notícias sobre a militância nacionalista em Portugal e na Europa. Além disso, contém um arquivo permanentemente em actualização com artigos variados (da ideologia à actualidade política, passando também pela ciência e ecologia), sondagens, reviews culturais, etc. Em duas palavras, o Portal Nacionalista é um espaço de reflexão e acção.

3. Recentemente a redacção do Portal Nacionalista foi a um colóquio da Terra e Povo, em Valência. Quais foram os conhecimentos que extraíste desse contacto internacional? E que benefícios têm esses contactos?

O I Colóquio da Terra e Povo em Valência foi muitíssimo rico do ponto de vista ideológico e metapolítico. Estiveram presentes as sumidades do pensamento identitário actual, tais como Guillaume Faye, Pierre Vial e Pierre Krebs. Escusado será dizer que ouvir as suas comunicações e falar directamente com essas personalidades, absorver o seu conhecimento e a sua experiência foi extremamente enriquecedor.

Uma das coisas que tive a oportunidade de conhecer mais a fundo foi o novo modelo de Europa que os membros e simpatizantes da Terra e Povo preconizam: Uma Europa fortaleza, federada, que se estende territorialmente dos Açores até aos montes Urais, e unida pelo cimento da raça e da civilização comuns, ainda que com autonomias étnicas internas. Essa nova Europa resultaria de um compromisso voluntário de todos os povos europeus, saído da queda da actual ordem estabelecida (falência do demo-liberalismo e do sistema económico mundial). Devo frisar que sou céptico relativamente a alguns dos pontos deste novo modelo Europeu, pois achei irrealistas algumas das soluções ali defendidas. Não obstante, é sempre positivo conhecer as novas teorias que circulam no meio intelectual nacionalista e identitário.

Tenho a felicidade de já ter estado presente em outros encontros internacionais e, por isso, sei bem a importância que têm. A troca de experiências, o convívio e a aprendizagem que resultam destes encontros é, não só extremamente enriquecedora do ponto de vista ideológico, mas também encorajadora do ponto de vista da acção. Os contactos entre nacionalistas de toda a Europa não são inéditos. Já nos anos 20 e 30 eram frequentes os encontros internacionais entre as diversas forças nacionalistas europeias.

4. O futuro será uma política europeia comum e a construção de projectos como a Frente Nacional Europeia?

Assistiremos com certeza a um fortalecimento dos elos entre as várias forças nacionalistas da Europa e não há dúvidas que se intensificarão os encontros e a cooperação entre os diversos movimentos nacionalistas europeus. Havendo vontade e recursos, as “federações” de partidos nacionalistas, como a EuroNat e a recém criada Frente Nacional Europeia, podem vir a desempenhar um papel indispensável junto das instâncias supra-nacionais, e tornarem-se importantes plataformas para a coordenação e gestão de sinergias, nomeadamente com vista a combater em prol de causas comuns, como por exemplo contra a imigração, contra a entrada da Turquia e de Israel na U.E, ou a favor de uma Europa livre dos compromissos com os EUA e China.

Essas plataformas europeias são também, em meu entender, os locais mais indicados para se iniciar a reflexão sobre o futuro modelo de Europa que queremos construir. Nesse plano, muito há ainda por fazer. Deparamo-nos com uma União Europeia extremamente burocratizada, regulada e institucionalizada. É preciso saber o que fazer com as imensas estruturas criadas e os tratados assinados ao longo de todas as últimas décadas. Reformá-los? Eliminar tudo e construir tudo de base? Enfim… Creio que nos temos que debruçar sobre todas essas questões, pois são matérias muito sérias e de grande responsabilidade.

Mas de resto, não creio que os partidos nacionais deixem alguma vez de ser os principais actores da mudança e os principais detentores da voz alternativa em cada um dos seus respectivos países. A cada nação, o seu respectivo movimento nacionalista.

5. Que papel poderá Portugal desempenhar num movimento nacionalista europeu?

Para ser franco, Portugal não tem, actualmente, nada para oferecer ao movimento nacionalista europeu. Em primeiro lugar, porque somos um dos países aonde o movimento nacionalista está mais atrasado e descoordenado. Em segundo lugar, porque somos um pequeno país cuja situação interna, por mais satisfatória que se venha a encontrar no campo do nacionalismo, pouca influência poderá exercer no conjunto do movimento europeu. Não estou com isto a dizer que, no futuro, encontrando-nos mais fortes e organizados, não possamos ter um papel mais activo e meritório no seio do movimento europeu. O nacionalismo português não tem que ser necessariamente passivo. Podemos ser activos em inúmeras áreas, a começar pela actividade intelectual e cultural. Daí a grande necessidade de formarmos os nossos quadros superiores de excelência e de abrirmos portas a um renascimento cultural.

Mas, hoje em dia, e para ser realista e pragmático, o movimento português deve aproveitar ao máximo tudo aquilo que puder receber de movimentos estrangeiros mais desenvolvidos, nomeadamente a nível de formação de quadros médios e superiores e, porque não, até a nível financeiro. Temos que aproveitar o know-how que fortes movimentos nacionalistas europeus, como o francês, o britânico e o alemão foram adquirindo através de décadas de luta e experiência. Mas o maior impulsionamento que o movimento nacionalista português poderá alguma vez receber, será, sem dúvida alguma, a vitória eleitoral de um grande partido nacionalista num grande país europeu.

6. Têm surgido ultimamente novos projectos políticos a nível de Internet. Qual é a tua opinião sobre o aparecimento de tantos projectos da área nacional?

Obviamente positiva! A Internet é uma excelente forma de furarmos o cerco da comunicação social. É um meio exultante que nos permite, em pouco tempo e com modestas quantias monetárias, tornar a voz nacionalista acessível a milhões de portugueses à distância de um clique, e sem margem para censuras (por enquanto...). Dentro de alguns anos, a esmagadora maioria da população portuguesa terá acesso frequente à Internet. É preciso fazer chegar a toda essa gente a nossa voz. É preciso inundar a Internet de nacionalismo. Quantos mais blogues, portais, páginas e foros, melhor!

Felizmente, têm surgido projectos na Internet bastante interessantes e válidos, como é o caso da Causa Nacional, do ECONAC e mesmo do Reconquista. Destacam-se também pela positiva diversos blogues. Mas não poderia deixar de lamentar a descontinuidade de excelentes projectos como o foram o Imigport e o Inconformista... A Internet é, e terá que ser ainda mais, um terreno privilegiado para a divulgação das nossas ideias. E não se pense que tudo se esgota no que já existe. É possível explorar muitíssimo mais este poderoso e imenso meio que é a Internet.

Deixo apenas uma ressalva: A Internet tornou-se um autêntico meio de activismo e militância (designadamente no campo das ideias) que tem cativado centenas de nacionalistas portugueses. Mas é bom que não nos olvidemos que o futuro da nossa causa se joga também (e sobretudo) nas ruas das nossas vilas e cidades. Sem esse trabalho de contacto real com as populações, jamais obteremos a confiança do país. Não se pode cair no grave erro de relegar para segundo plano as outras frentes de acção!

7. O Portal Nacionalista está para durar? O que podemos esperar para o futuro?

Durará enquanto o projecto tiver validade e utilidade e enquanto eu tiver tempo e disponibilidade para lhe dar seguimento. Há muitos projectos que nascem pequenos e pouco ambiciosos mas que vão crescendo e melhorando com o tempo. Este, pelo contrário, nasceu já grande e ambicioso. Por isso, o que mais espero é poder corresponder à ambição inicial do projecto. Se houver mais tempo e imaginação, poderão surgir algumas surpresas. Por enquanto, os visitantes do Portal Nacionalista podem contar com a continuidade do trabalho que até tem sido desenvolvido.

8. E o futuro do nacionalismo em Portugal é risonho?

É meu entender que o que vier acontecer em Portugal em matéria de mudança política dever-se-á mais às circunstâncias internacionais e a macro-acontecimentos do que ao trabalho meritório dos nacionalistas ou sequer ao crescimento da simpatia do povo para com o nacionalismo. A haver uma efectivação do poder nacionalista em Portugal (e na Europa), isso dever-se-á sobretudo a imperativos histórico-acontecimentais inelutáveis que obrigarão a uma inflexão drástica no campo da política e da sociedade. Para poder apresentar esta tese, terei que me alongar um pouco, e fazer um esboço do quadro internacional que se está a desenhar.

Em dado momento da história mundial (nomeadamente ao longo de toda a década de 90), creu-se que o progresso social e económico não iria jamais abrandar; que haveria dinheiro para distribuir pela maior parte dos necessitados; que o sistema capitalista mundializado promovia a distribuição de riqueza e prevenia a ocorrência de graves crises económicas; que poderíamos destruir as identidades culturais, a moral e a família e substituir tudo isso pelos anti-valores progressistas, pelo individualismo e hedonismo; que a medicina iria encontrar respostas para todas as doenças e epidemias; que a ciência encontraria soluções para os abusos cometidos sobre o meio ambiente; que os conflitos bélicos tenderiam a extinguir-se ao ritmo da (hipotética) democratização do terceiro-mundo. Na base lógica destas crenças, continua a avançar a religião onusiana (de ONU) que, desde a sua criação, começou a impor – através dos meios de comunicação social e pela coação intelectual e cultural – uma nova moral baseada no igualitarismo humano, no relativismo cultural e moral e no pacifismo positivista. Esta religião mundial conduziu, entre outras coisas, à imposição, no ocidente, da aceitação social de comportamentos anti-naturais como a homossexualidade e o aborto, bem como ao estímulo da rebelião da mulher contra o homem e à imigração desregulada. Mas mais grave que tudo isso, a religião onusiana tem servido de argumento ao governo mundial – que, para existir, terá fatalmente que ser tirânico, anti-democrático e totalitário, ainda que sob a capa de um pretenso humanismo.

Mas décadas após a “evangelização” à escala global da religião onusiana e da difusão dos liberalismos e socialismos optimistas, hoje, em pleno séc. XXI, o estado do mundo ilustra perfeitamente o desmoronar de cada um daqueles mitos do progresso eterno e da fraternidade mundial. Segundo Guillaume Faye, o mundo está a precipitar-se para uma “convergência de catástrofes”, a ocorrer até 2020. Entre elas encontram-se a económico-financeira, a demográfica e social, a ambiental e a geopolítica. Debrucemo-nos nessas linhas de catástrofe com mais algum pormenor:

- As economias europeia e norte-americana estão em clara recessão, não se prevendo qualquer retoma futura. O desemprego aumenta. As desigualdades entre blocos regionais, estados e classes estão a aprofundar-se. O capitalismo, ao invés de conduzir a uma distribuição de riqueza, conduziu à concentração da propriedade. Graças à quebra da fecundidade, os sistemas de segurança social faliram, e assiste-se a um progressivo desmantelamento dos mecanismos de justiça social, sem nada que os substitua.

- A diluição dos valores, da moral, da família e das identidades culturais e étnicas está a “descalcificar” as sociedades, levando-as à anarquia, à confusão e à incerteza. Por um lado, as baixas taxas de natalidade, a explosão do divórcio, o aumento das famílias mono-parentais, o aborto, o advento das sexualidades alternativas e, por outro, o consumismo, o aumento exponencial das doenças depressivas e dos suicídios, da marginalidade, da toxicodependência, do pequeno crime e da alta corrupção são apenas algumas das consequências da “descalcificação” das sociedades ocidentais que se foi processando paulatinamente ao longo de toda a segunda metade do séc. XX.

- Todos os anos surgem novas epidemias e doenças (tanto no homem como nas espécies animais e vegetais da cadeia alimentar), aparecem novas mutações de vírus e reaparecem vírus multi-resistentes que se davam por extintos. E o que está a acontecer é que a medicina não está a conseguir acompanhar este ritmo alucinante. No que ao ambiente diz respeito, a actual geração já sente os graves efeitos que a gula humana provocou. Sucedem-se catástrofes ambientais (dilúvios, secas, tornados, sismos) a um ritmo até agora nunca assistido pelo homem; o nível das águas do mar aumenta de dia para dia; os rios e os aquíferos secam e/ou estão poluídos; o nosso frágil sistema atmosférico está a abrir brechas. Enfim, o clima está em acelerada mutação, transitando da harmonia para o caos e o extremo. No futuro, poderão existir extensos territórios praticamente inabitáveis (imagine-se as pressões demográficas que tais acontecimentos poderão gerar!), localizados, grosseiramente, entre as latitudes 30º N e 30º S devido ao aquecimento global.

- No plano das relações internacionais, gera-se um clima cada vez mais tenso; as guerras não terminaram, antes multiplicam-se; as fronteiras entre blocos civilizacionais vincam-se. A ascensão da China a super-potência mundial, a proliferação de armas nucleares e o recrudescimento do ódio muçulmano são alguns dos focos mais problemáticos. Por outro lado, desenham-se conflitos civis inter-étnicos, não só no terceiro-mundo como no seio da própria Europa graças à invasão e ocupação do nosso território por massas humanas alógenas que procuram desesperadamente por um “lugar ao sol”. Só em França, estima-se que a comunidade muçulmana atinja 6 a 7 milhões de habitantes, com incrementos anuais na ordem das dezenas de milhar; em Portugal, os residentes não-europeus constituem já mais de 5% da população… O pequeno crime étnico violento que hoje em dia fermenta nas grandes metrópoles europeias é apenas a antecâmara de uma provável guerra entre invasores e invadidos.

Tudo isto pode soar a fatalismo, mas a realidade é que a Europa da primeira metade do séc. XXI não será seguramente um lugar de paz, abundância e desperdício como até aqui tem sido. Perante todos estes problemas, a questão que se coloca é: será que o actual sistema político demo-liberal encerra os mecanismos e as estruturas ideológicas que lhe permitam fazer frente aos desafios que aí vêm? É óbvio que não. O actual sistema está totalmente desgastado e corrompido e já nem sequer conta com a confiança da grande maioria da população (veja-se, por exemplo, as crescentes taxas de abstenção nas eleições por toda a Europa). Há um grande sentimento de descrédito da população relativamente à política e aos políticos actuais. Não vou escondê-lo: A oportunidade dos nacionalistas reside nos erros clamorosos e suicidários das actuais políticas. Quando as crises acima apontadas se começarem a convergir umas com as outras, só restará uma solução: A mudança de paradigma, mudança essa que apenas poderá ser operada por aqueles cuja ideologia melhor se adequar à gestão de tempos de crise e por aqueles que melhor puderem restabelecer a ordem natural das coisas. O nacionalismo, pela sua visão do mundo não-igualitarista, meritocrática, pró-vida e realista, bem como pela sua capacidade de unir os esforços e as vontades nacionais em torno de grandes metas, é a ideologia mais adequada ao mundo de ferro e fogo que nos aguarda impacientemente.

Não sei qual o derradeiro acontecimento que irá levar os nacionalistas ao poder em Portugal – se um acto eleitoral, se a ocupação de um poder vazio, se será uma transição pacífica ou um processo turbulento. Mas isso pouco interessa, pois a nossa chegada ao poder é algo que terá que ser preparada ao longo dos próximos anos. Antes de chegarmos ao poder já teremos que estar destinados a lá estar, e isso, só a história, conjugada com o nosso merecimento, poderá determinar. Mas estou convencido que a história nos seleccionará.

9. Para terminar a entrevista, queres salientar algum aspecto?

Sim. Quero aproveitar esta oportunidade que a Causa Nacional me ofertou para apelar a todos os seus leitores à acção militante e dedicada. Quando eu digo que a história nos vai seleccionar, não estou a dizer que estejamos predestinados e que, por isso, a nossa acção militante é dispensável ou pouco determinante. Espero que não tenham entendido dessa forma! Quem me conhece pessoalmente sabe o quanto eu valorizo a militância e a acção e o quanto meço os meus camaradas pelo tempo e esforço que dedicam à Causa.

Apesar dos factos histórico-acontecimentais futuros irem determinar, em grande parte, a vitória dos nossos ideais, tal não significa que a história, por si só, faça o trabalho que nos cabe a nós fazer. Para aproveitarmos as oportunidades da história é preciso trabalhar muitíssimo!!! Desenganem-se os pregadores e os crentes da facilidade. Nada neste mundo se conquista sem esforço e perseverança. E não basta o esforço no sentido físico. É necessária também uma boa dose de QI estratégico e político, que consiste sobretudo em saber aproveitar os momentos certos para agir, empregando os meios mais eficazes à consecução das metas estabelecidas.

Ao longo dos meus anos de militância, já lidei com muitos nacionalistas. Infelizmente, a grande maioria daqueles que estabelecem um primeiro contacto connosco apresenta inúmeras desculpas – a maioria delas esfarrapadas – para não trabalhar. Ora é a falta de tempo, ora a falta de dinheiro, ora o medo. Todos temos tempo e dinheiro para a Causa se os racionarmos e se não os desperdiçarmos em estupidificantes sessões de cinema e pipocas, em jogos de computador ou programas de TV, em tabaco, em noitadas de cerveja ou discotecas…

Alguém disse que ser militante não tem os seus sacrifícios e não implica algumas restrições? É óbvio que há sacrifícios e restrições. Mas tem também os seus ganhos! E o primeiro de todos é para com a nossa consciência. Ao trabalharmos para Portugal, sentimo-nos úteis e candidatamo-nos a um lugar na História. Afinal de contas, há algo na Terra mais dignificante do que lutar pela nossa terra e por ideais justos? Miserável e desprezível aquele que vive unicamente para satisfazer os seus desejos carnais!

No nacionalismo português, quase tudo está ainda por construir: uma plataforma política forte, núcleos locais activistas, actividade intelectual e doutrinária, promoção cultural, activismo de cidadania, etc. Há lugar para todos!

“Quem falha em preparar-se prepara-se para falhar”, é um pensamento que deve acompanhar todo o nacionalista!

Universalidade do Fascismo

Por António José de Brito (In «Agora», n.º 329, ano VII, 04.11.1967)

Certos espíritos, que não são providos de inteligência em excesso, se ouvem alguns de nós declararem-se fascistas, costumam exibir um sorriso de imensa superioridade, exclamando: «Como é isso possível? O fascismo surgiu na Itália, logo é qualquer coisa de especificamente italiano: aliás o próprio Mussolini o reconheceu». Normalmente, tão inteligentes individualidades não têm conhecimentos suficientes para nos informarem quando e onde o Duce expressou tal opinião. Todavia há excepções e dentre as pessoas que exibem argumentos desta índole umas tantas não deixam de nos fulminar com a frase do discurso de 1923: «o fascismo é um fenómeno tipicamente italiano», com a declaração de 1925: «o fascismo não pode ser imitado», e, sobretudo, com a asserção de 1928: «o fascismo não é artigo de exportação».

Simplesmente o hábito de cavalheiros assim eruditos é esquecerem-se, com notável senso das oportunidades, de integrar as passagens citadas no contexto devido. É que se o fizessem já as afirmações do Duce não poderiam servir de argumento.

Em 1923, Benito Mussolini se considerou o fascismo um fenómeno tipicamente italiano, acrescentou logo em contrapartida: «mas bastantes dos seus princípios são universais». Em 1925, depois de dizer que o fascismo não pode ser imitado, esclareceu imediatamente: «assevero, todavia, que há no fascismo fermentos de vida cujo carácter universal não se pode negar». Quanto ao repto de 1928: «o fascismo não é artigo de exportação», além de não ser da autoria do Duce e não passar de aproveitamento de um lugar comum, repetido em determinados ambientes, foi proferido incidentalmente e tinha mero carácter polémico, consoante observou, muito bem, o Prof. Francesco Ercole. Em resposta a Mons. Seippel, que levantara a questão do Alto Adige, Mussolini replicou: «Que nos importam as lutas de candidaturas que haja na Europa? O fascismo não é artigo de exportação. Se a Europa quer infectar-se mais gravemente ainda das enfermidades de que nós já estamos curados, só nos fará estar mais vigilantes para defender-nos do contágio.»

O sentido das palavras de Mussolini é inequívoco. O fascismo não é coisa que a Itália tenha interesse propriamente em exportar como se tratasse de mercadoria. Quem desejar permanecer agarrado a erros já superados pelo fascismo, que permaneça. Tanto pior para ele. E acentue-se o seguinte: proclamar que a Europa, afastando-se do fascismo, agrava a sua doença é ter a convicção bem segura de que o fascismo é solução universal.

De qualquer modo, perante as interpretações habitualmente dadas a esse passo da resposta a Mons. Seippel, o Duce sentiu-se no dever de as corrigir. Em 1930, após esclarecer «A frase o fascismo não é artigo de exportação não é minha», solenemente garantia: «Aqui vai a rectificação. Hoje digo que o fascismo enquanto ideia, doutrina, realização, é universal; italiano nas suas instituições concretas, universal no espírito». E, em 1934, Mussolini insistia: «Desde 1929 até hoje o fascismo, de fenómeno italiano passou a fenómeno universal.» Era inteiramente verdade isso, na data em que foi dito, depois da subida do nacional-socialismo ao poder, e dos eventos desenrolados noutros países ainda. Fenómeno italiano até 1929, embora doutrina universal, nessa altura passou a ser doutrina e fenómeno universais. Claro que essa universalidade do fenómeno não excluía que os movimentos fascistas de todos os países tivessem características próprias e não se reduzissem a meras cópias.

Por consequência, a exegese do pensamento do Duce, em vez de fornecer um argumento a empregar contra os que, fora da Itália, se proclamam fascistas, vem tão só justificar as suas atitudes. Contudo, isto não é o suficiente para resolver a questão. Se Mussolini considerava o fascismo universal, nada nos garante, todavia, que se não enganasse.

Examinemos, rapidamente, o problema. Uma vez que o fascismo surgiu em Itália isso provará que tem de ser, necessariamente, italiano? Nem por sombras. Raciocinar desse modo seria confundir a ordem lógica com a ordem psicológica e genética. Não há sistema, filosofia, ideologia, que não tenha uma origem bem delimitada no espaço e no tempo. Iremos concluir daí que todas as doutrinas são relativas a circunstâncias dessa ordem e não as podem ultrapassar? A conclusão é impossível, porque, desde que falamos em todas as doutrinas, formulamos, já, uma doutrina de alcance geral e que excedeu o âmbito espácio-temporal da sua formulação, neste momento e nesta terra. Uma doutrina, se é um conjunto de ideias e valorações tem, por definição, o carácter das ideias e dos valores - a intemporalidade, a universalidade. Uma doutrina que se pretenda local e momentânea é afirmação, para todos e em termos ideais, de que não serve para todos, ou seja, é uma contradição em acto. E a doutrina que sustente que só há doutrinas de alcance particular é uma fórmula universal - dirigida a todos - que pretende abranger todas as concepções em acto.

Aliás porque se indignam tanto certos sujeitos contra a tese da universalidade do fascismo, se aceitam, de boa mente, que o absolutismo foi doutrina que se espalhou, simultaneamente ou quase, em diversas nações, e se não os escandaliza o facto do ideário de 1789 ser acatado, ainda agora, em boa parte do mundo, por gente das mais diversas raças, cores e religiões, apesar da sua procedência gaulesa e iluminista.

Quando vemos virtuosos patriotas (indignados contra os que, em Portugal, têm a coragem de se dizer fascistas) manifestarem a sua firme repulsa por tudo o que não for português de gema e castiço, ocorre-nos, sempre, este oportuno e certeiro comentário de Rafael Sanchez Mazas, no periódico Falange Española: «Nem Itália, nem Moscovo, Espanha!, clama uma voz tonitruante. Aplausos e silêncio. A seguir, a voz tonitruante tornou-se suave para expor umas pálidas e vagas teorias tardiamente da Revolução Francesa.»

Claro que há outro caminho, também, para negar a universalidade do fascismo. É contestar que este seja uma doutrina, reduzindo-o a simples agregado de disposições de objectivos restritíssimos, que não ultrapassavam a conjuntura italiana dos anos vinte e que, por isso, se tornava absurdo querer seguir em Portugal, na Bélgica, na Inglaterra, etc. No entanto isto não passaria de falsificação sem nome porque a doutrina fascista, enquanto conjunto de ideias e valorações, existe, incontestavelmente, encontrando-se expressa, sem equívocos, na súmula de Mussolini intitulada «Fascismo» e nas obras dos Gentile, dos Varisco, dos Binder, dos Krieck, dos Panunzio, dos Rocco, dos Coppola e muitos outros cujos trabalhos formam biblioteca.

E, de resto, se não fosse o fascismo uma doutrina universal, como se compreenderia que, por exemplo, em França, antes de 1939, funcionasse um Comité de Vigilance Anti-Fasciste e que, no momento presente, sejam constantes os ataques, as críticas — abjectas na sua maioria —, as propagandas anti-fascistas?

Morto Mussolini, morto Adolfo Hitler, morto Codreanu, morto José António, morto Szalassy, exilado e perseguido Degrelle, proibidos por lei, em toda a parte, partidos totalitários, não havendo mais um único Estado que, com propriedade, se possa considerar fascista, porquê a polémica incessante contra o fascismo, esmagado nos campos de batalha, se este não fosse um ensinamento permanente, dotado de universalidade que ameaça, como remorso perene, os seus inimigos?

Os que proclamam que o fascismo surgiu e morreu na Itália cobrem-no, simultaneamente, de insultos e doestos vivíssimos, com a paixão actual que ninguém dedica a coisas historicamente sepultadas como a conquista das Gálias ou as proezas de Saladino.

Significa isto que eles temem, ainda agora, o fascismo, embora, com fingido desdém, o classifiquem de cadáver. E temendo-o, mesmo depois de derrotado, prestam a melhor das homenagens à validade perene e ao carácter autenticamente universal da doutrina fascista.

Uma visão Tradicionalista

Por Edouard Rix (traduzido por Rodrigo Nunes)

Porque combatemos? Esta é a questão fundamental que todo o soldado político deve colocar. Por contraditório que possa parecer somos tentados a responder que lutamos pela Tradição e pela Revolução. A Tradição

Antes de mais não se deve confundir a Tradição com as tradições, isto é, os usos e costumes.

A Tradição designa o conjunto dos conhecimentos de ordem superior referentes ao Ser e suas manifestações no mundo, tal como nos foram legados pelas gerações anteriores. Ela assenta não no que foi uma vez, num tempo e espaço determinados, mas no que é de sempre. Admite uma variedade de formas – as tradições –, ao mesmo tempo que permanece una na sua essência. Não poderíamos confundi-la com a tradição religiosa única porque ela cobre a totalidade das actividades humanas, políticas, económicas, sociais, etc.

No seguimento de Joseph de Maistre, de Fabre d’Olivet e, sobretudo, de René Guénon, Julius Evola fala de uma «Tradição primordial» que, historicamente, permitiria contemplar a origem concreta de um conjunto de tradições. Tratar-se-ia de uma «tradição hiperbórea», vinda do Extremo Norte, situada no começo do presente ciclo de civilização, em particular das culturas indo-europeias.

Do ponto de vista de Evola «uma civilização ou uma sociedade é tradicional quando é regida por princípios que transcendem o que é meramente humano e individual, quando todas as suas formas vêm do cimo e quando ela está toda orientada para o alto». A civilização tradicional assenta então em fundamentos metafísicos. É caracterizada pelo reconhecimento de uma ordem superior a tudo o que é humano e contingente, pela presença e autoridade de elites que retiram desse plano transcendente os princípios necessários para assegurar uma organização social hierarquicamente articulada, abrindo as vias para um conhecimento superior e conferindo por fim à vida um sentido vertical.

O mundo moderno é quanto a ele o oposto do mundo da Tradição que se personificou em todas as grandes civilizações do Ocidente e Oriente. É-lhe próprio o desconhecimento de tudo o que é superior ao homem, uma dessacralização generalizada, o materialismo, a confusão de castas e raças.

A Revolução

Quanto ao termo Revolução deve ser entendido na sua dupla acepção. No seu sentido actual, o mais correntemente utilizado, Revolução significa mudança brusca e radical no governo de um Estado, a Revolução francesa e a Revolução soviética de 1917 são uma ilustração perfeita.

Não obstante, no seu sentido primeiro, Revolução não significa subversão e revolta mas o contrário, a saber, regresso a um ponto de partida e movimento ordenado em torno de um eixo. É assim que, na linguagem astronómica, a revolução de um astro designa precisamente o movimento que ele realiza gravitando em torno de um centro, o qual contém a força centrífuga, impedindo o astro de se perder no espaço infinito.

Ora nós estamos hoje no fim de um ciclo. Com a regressão das estirpes, a descida progressiva da autoridade de uma a outra das quatro funções tradicionais, o poder passou dos reis sagrados a uma aristocracia guerreira, depois aos comerciantes, por fim às massas. É a idade de ferro, o Kalî-Yuga ariano, idade sombra da decadência, caracterizada pelo reino da quantidade, do número, das massas, e a correria desenfreada à produção, ao lucro, à riqueza material.

Ser pela Revolução hoje, é pretender o regresso da nossa civilização europeia a um ponto de partida original, conforme aos valores e aos princípios da Tradição, o que passa, reivindicando a expressão de Giorgio Freda, pela «desintegração do sistema» actual, antítese do mundo tradicional ao qual aspiramos.

Manifesto para uma nova Educação em Portugal

Texto publicado em 2005 no site da Juventude Nacionalista

O presente documento tem como objectivo esboçar um diagnóstico da situação do Sistema de Ensino em Portugal e apresentar as nossas ideias e soluções. Mas, antes de tudo, não poderíamos deixar de referir que seria muito mais fácil para nós, Juventude Nacionalista, optar por um discurso populista e demagógico, ao estilo das outras juventudes partidárias (em especial as de inspiração comunista). Mas não, não iremos por aí. Não faremos propostas absurdas e completamente desfasadas da realidade só para recrutar mais um punhado de jovens ingénuos. Os jovens que alinham com as nossas ideias não são motivados pela aquisição de um «tacho» ou pela oferta de droga (como se faz impunemente noutros lados). O que nos move não é, por outro lado, o dinheiro ou as oportunidades e regalias sociais. Somos jovens com princípios, valores e uma convicção inabalável. Lutamos pela Pátria e pela honra àqueles que, outrora, derramaram o seu sangue em nome deste projecto nacional chamado Portugal! A pureza da nossa luta torna-nos mais do que simples militantes. Somos soldados políticos! E é por isso que temos o potencial para nos tornarmos uma grande força política, impulsionadora da mudança radical que Portugal precisa!

DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DO ENSINO EM PORTUGAL

O Ensino em Portugal encontra-se em falência total pois já não cumpre a sua função como seria minimamente exigível num pais europeu e supostamente desenvolvido. Com efeito, desde há várias décadas que o estado da Educação em Portugal tem vindo a deteriorar-se. Hoje em dia os alunos portugueses obtêm os piores resultados da União Europeia e as salas de aula transformaram-se em antros de indisciplina, caos e delinquência. Chegamos a ouvir falar de exemplos humilhantes de jovens que terminam o ensino Secundário com dificuldades a ler, escrever e realizar operações aritméticas básicas. O resultado das teorias pedagogistas e alegadamente progressistas, impostas pela esquerda desde o período pós-revolucionário, está à vista. A Educação tornou-se desleixada e pouco exigente, preparando deficientemente a juventude para os desafios futuros.

Aquilo que os partidos do sistema ocultam e que os jovens muitas vezes se esquecem é que um ensino facilitista e desleixado prejudica, em primeiro lugar, os próprios jovens! Um jovem deficientemente preparado terá mais dificuldade em arranjar um bom emprego e será, seguramente, um mau profissional. Em segundo lugar, mas não menos importante, é o próprio país que sai lesado…

E se o ensino vai mal, as causas primeiras estão longe de estar apenas associadas a questões de ordem infraestrutural. Se é verdade que em muitos casos as instalações escolares não são as melhores, encontrando-se por vezes em acelerado estado de degradação, e possuindo pouco e obsoleto equipamento, a falência do ensino português tem que ver, sobretudo, com questões de orientação política, ideológica e programática. Os problemas que afectam a educação têm causas profundas e múltiplas, que só com muita determinação e convicção podem ser resolvidas.

• A tábua rasa igualitarista: A ideologia esquerdista dos partidos do regime imprimiu ao sistema de ensino a ideia de que todos têm as mesmas aptidões e capacidades. Por muito desagradável que seja dizê-lo, trata-se de uma falsidade completa. Tomando como princípio a (falsa) igualdade entre os alunos, a fasquia foi colocada na média das capacidades, desprezando os alunos com maior potencial e premiando a preguiça e o laxismo.

• O fim da ordem e do respeito: As salas de aula tornaram-se meros prolongamentos do recreio e a figura do professor foi desvirtuada. Como consequência da impunidade reinante, a indisciplina tomou de assalto muitos estabelecimentos e as agressões entre alunos atingem níveis inadmissíveis.

• Excesso de pedagogia: Os didactas do regime instalaram a ideia de que a aprendizagem não tem que ser necessariamente dolorosa, e que é possível aprender facilmente, por sugestões, exemplos, quase por osmose… Para isso, gastam-se páginas e páginas, cheias de bonecos, imagens e exercícios inúteis com vista a fazer da aprendizagem algo que dê prazer e que seja, inclusive, divertido. Ora, os resultados mostram que a pratica destas ideias só tem dados péssimos resultados. A aprendizagem e a aquisição de conhecimento é algo que exige esforço, estudo e dedicação. O problema desta ideia e prática é que cultiva a mentalidade de que tudo na vida deve ser fácil e divertido, e tudo o que não dê prazer deve ser rejeitado. Ora, esta mentalidade é extremamente irrealista e prejudicial, pois não prepara os jovens para a dura realidade da vida.

• Fim das alternativas tecnológicas e profissionais: Um sistema alternativo dedicado à formação de técnicos especializados nas mais diversas áreas tecnológicas foi uma importante componente da instrução nacional que a Revolução do 25 de Abril assassinou. Actualmente, a fraca aposta nas qualificações médias tecnológicas está a dar os seus frutos podres… O mercado de trabalho português carece destes técnicos e, sem eles, o nosso país não pode ser economicamente competitivo.

• Programas excessivos e disciplinas inúteis: Os programas aumentaram, assim como o número de disciplinas. No entanto, é bem sabido que os alunos que concluem hoje a escolaridade obrigatória estão menos preparados do que as pessoas que terminaram os estudos há algumas décadas atrás. Os programas actuais estão mal orientados e muitos dos conhecimentos são inúteis. Os alunos acabam por não absorver aquilo que é realmente importante.

• Propaganda em vez de conhecimento: Os programas de certas disciplinas, tais como Português, Filosofia, Psicologia, Sociologia e Línguas estrangeiras estão mais orientados para a propaganda politicamente correcta, promotora do multiculturalismo e dos ideais universalistas, do que para a transmissão dos conteúdos e conhecimentos indispensáveis. Os alunos são bombardeados, desde o primeiro ciclo ao 12º ano, com mensagens explícitas de propaganda politicamente correcta.

• Qualidade decrescente dos professores: Como consequência da massificação do ensino superior e a banalização das licenciaturas, a qualidade dos próprios professores tem vindo a regredir, assim como a sua autoridade e empenhamento pessoal. Os professores já não o são por vocação, mas sim por não terem outras alternativas profissionais para as suas habilitações académicas.

• Gastos excessivos para as famílias: Propaga-se a ideia de que a Educação até ao secundário é gratuita, mas os preços praticados pelas editoras é verdadeiramente imoral, e o material escolar assume um peso excessivo (e muitas vezes incomportável) no orçamento das famílias mais carenciadas.

Estes são alguns dos principais problemas que afectam o Sistema de Ensino em Portugal. O mais impressionante é que muitas destas falhas já têm sido apontadas por diversos peritos, mas os problemas acumulam-se sem que tenham um fim à vista. Afinal, o que têm feito os governos de Portugal ao longo das últimas três décadas? Estarão a brincar com o futuro da Nação?

É bem sabido que o Ensino não dá votos. Por mais «reformas» que se façam, os resultados do investimento nesta área não surgem durante os quatro anos de uma legislatura. Assim, os sucessivos governos preferem ou arrumar o assunto para um canto e esperar que as coisas se resolvam sozinhas, ou proceder a presumíveis reformas que não passam de mudanças estéticas! O problema é que, nesta área, os problemas tendem a agravar-se com o tempo, enquanto certas mudanças, mesmo que superficiais, servem apenas para degradar ainda mais o sistema educativo português.

Por sua vez, o movimento estudantil nacional também atravessa tempos difíceis. As associações de estudantes, completamente dominadas pelos partidos de esquerda mais ou menos radicais, para além de não terem qualquer conquista relevante no seu currículo, têm dado sucessivos tiros no pé. A banalização das greves e manifestações, na maioria das vezes convocadas por motivos patéticos ou até desconhecidos pela esmagadora maioria dos activistas, têm contribuído para retirar poder negocial aos alunos. Assim se explica que, actualmente, os estudantes estejam arredados das mesas de negociações quando se trata de discutir o futuro da Educação no nosso país.

Por outro lado, na ânsia do enriquecimento e da ascensão social, as famílias têm-se demitido da sua função primordial. O tempo do jovem junto da sua família tem diminuído progressivamente, e o resultado é o desinteresse dos pais pela educação dos filhos. E se algum nível de autonomia é positiva, por exemplo, na adolescência, o mesmo não se pode dizer do puro e simples abandono a que muitos jovens portugueses são hoje votados. A juventude está hoje muitas vezes entregue ao poder degenerativo das televisões, do consumismo e, por vezes, da delinquência das ruas. É claro que a culpa não é só das famílias em si, mas da sociedade que o actual regime construiu, dominada pelo stress, pela escassez de tempo livre, pelas filas de trânsito intermináveis, que roubam o tempo e a paciência que os pais deveriam dedicar aos seus filhos. A família encontra-se ferida de morte!

A Juventude Nacionalista concebe um sistema de ensino radicalmente diferente do actual. A nossa ideologia nacionalista ensina-nos que o bem comum da Nação só pode ser atingido com um povo mais e melhor instruído, mas também com uma correcta e natural organização social, que respeite as diferenças entre aptidões e capacidades individuais, que premeie o mérito e o esforço e que forme autênticas elites nas mais diversas áreas de intervenção nacional ao nível político, social, profissional, académico, etc.

É altura de deixar para trás as teorias pedagogistas e progressistas que, está visto, só têm dado maus resultados. É vital apostar num ensino exigente e disciplinado, que prepare realmente os jovens para o futuro que os espera, de acordo com as aptidões e capacidades de cada um. Um Ensino que não se limite à leccionação de conhecimentos, mas que incuta nos nossos jovens sentimentos saudáveis como a honra, o amor à Pátria, a camaradagem e a disciplina, e que promova a valorização das nossas raízes nacionais. Um Ensino que desencoraje o laxismo e a preguiça. Um Ensino que recompense o esforço e o mérito. Um Ensino em que o desporto seja componente essencial e indissociável!

1) EDUCAR JOVENS PLENAMENTE PORTUGUESES

As escolas de hoje não devem ser apenas espaços de formação técnica, mas devem dotar os jovens de valores actualmente em extinção. Por isso, defendemos um ensino patriótico, que mostre aos jovens que a honra, o orgulho nacional e a camaradagem são sentimentos mais válidos que a ganância e o individualismo, derivados do poder totalitário do capital.

E mesmo defendendo um ensino laico, entendemos que os jovens devem ter conhecimentos das raízes cristãs e pré-cristãs da nossa História, Cultura e Tradição. A disciplina de Português deve incluir mais autores nacionais e a História deve conter uma perspectiva mais nacional.

Se os jovens portugueses sentirem que são realmente parte integrante da nação, que estão integrados num destino comunitário nacional, serão certamente mais cumpridores e realizados. Não queremos formar jovens anónimos e desenraizados. Queremos formar jovens plenamente Portugueses!

2) EDUCAR JOVENS COM ATITUDE

Como já foi referido, o sistema de ensino não se deve reduzir à leccionação dos conteúdos programáticos, mas deve servir também para estimular os jovens para uma mentalidade pautada pelo espírito de iniciativa e de realização e uma atitude mais decidida e competitiva. Para tal, os alunos devem ser encorajados à tomada de decisões e à intervenção escolar e cívica, incutindo, desse modo, um sentido de maior responsabilidade pessoal.

3) DEVOLVER O RESPEITO E A DISCIPLINA ÀS SALAS DE AULA

Com o já referido processo revolucionário veio a total subversão das regras de autoridade e hierarquia nas escolas. O que acontece actualmente é que hoje as salas de aula são meras extensões do recreio, onde há casos mirabolantes desde partidas de futebol até agressões impunes a professores.

Defendemos o regresso da ordem e do respeito às escolas. A sala de aula não pode ser uma anarquia! Para que o Ensino funcione, é necessário que devolvamos a autoridade aos professores. Porque, afinal, estamos a formar cidadãos responsáveis e não bandos de selvagens.

4) AUMENTAR A FASQUIA DA EXIGÊNCIA

Derivado de um ensino em que o facilitismo e a parca exigência são as palavras de ordem, temos uma juventude débil e acobardada, que desiste à primeira dificuldade que a vida apresenta. Tudo isso tem que mudar.

Um ensino facilitista e desleixado prejudica, em primeiro lugar, os próprios jovens! Um jovem deficientemente preparado terá mais dificuldade em arranjar um bom emprego e será um mau profissional.

Além de um Ensino exigente, defendemos a desburocratização das reprovações (ou «retenções», em linguagem politicamente correcta), a mudança de escala de classificação dos alunos do Ensino Básico para a escala de 0 a 20, a realização de exames no 4º, 9º e 12º e a recompensa do mérito.

A escala de 0 a 5 é injusta e ilusória, já que coloca ao mesmo nível alunos com capacidades muito distintas. Propomos a mudança para o estilo de 0 a 20 (utilizado há muito no Ensino Secundário e Superior). Esta é uma questão de justiça e bom-senso.

Relativamente às reprovações, lembramos que, actualmente, para ‘chumbar’ um aluno são necessárias dezenas de impressos e opiniões. Como resultado, os professores preferem passar o aluno, mesmo que este não esteja minimamente habilitado. No futuro, este, para além de se prejudicar a si próprio, já que não tem bases, prejudica também o resto da turma, pois será um motivo de atraso.

5) RECOMPENSAR O MÉRITO E A EXCELÊNCIA

Na fúria anarquizante que sucedeu o golpe do 25 de Abril, exterminou-se do ensino o hábito de premiar os melhores alunos. Era um pensamento alegadamente «fascizante» e um entrave à via do Socialismo (ou então era mesmo só para favorecer os cábulas de esquerda que tentavam ganhar algo com a rambóia pós-revolucionária).

Desde há uns anos lectivos que se têm reimplantado os agora denominados quadros de excelência, que visam premiar os alunos que mais trabalham e que melhores resultados obtêm. Apoiamos esta medida, mas pensamos que deve estar enquadrada num plano mais vasto. Defendemos que os melhores alunos devem ser premiados, quer por meio de descontos em material cultural e didáctico, quer por bolsas de estudo ou isenção de propinas. O país tem o dever de apoiar os alunos mais dedicados e trabalhadores, e fazer sentir que o seu trabalho é útil e recompensado. Além de serem exemplos a seguir, são estes jovens que fazem a diferença.

A Biologia provou que o desenvolvimento e a evolução só ocorrem quando há competição. É, portanto, igualmente fundamental que o Ensino privilegie a competição saudável entre alunos, entre escolas e entre distritos, criando tabelas e rankings.

6) EXAMES NACIONAIS, UM MAL NECESSÁRIO

Os exames nacionais são o maior problema para os alunos do Ensino Secundário. São vistos como bichos-de-sete-cabeças visto que podem «arrasar» com três anos de trabalho, hipotecando, ou pelo menos adiando, os sonhos de qualquer um.

Contra os exames, erguem-se as vozes das organizações juvenis patrocinadas pelos partidos da esquerda mais ou menos radical. Os alunos concordam e seguem o megafone, tudo acompanhado pelo folclore do costume. Querem o fim dos exames: «Porque os exames são maus. Porque os exames são injustos. Porque os exames só servem para lixar os alunos.» Mas será que é mesmo assim?

Não! Isso é demagogia pura. E só vai na conversa desses «iluminados» quem não tem horizontes maiores que a semana seguinte. Eles próprios – os dirigentes (!) estudantis – sabem que o fim dos exames é apenas um pretexto para mobilizar uma certa juventude ingénua, usando-a para satisfazer simples interesses partidários.

Os exames nacionais foram criados para equilibrar os dois tipos de ensino (público e privado) e as várias escolas. Não faz sentido um aluno entrar no difícil curso de medicina só porque teve professores «simpáticos», quando outro aluno, melhor, ficou à porta porque teve uma avaliação mais exigente. Isto só levaria a um crescente facilitismo e total implosão do ensino. Além disso, os exames nacionais são a ocasião em que os alunos têm que marcar a diferença. Quando um doente chega às Urgências e morre, o médico não pode queixar-se da falta de tempo ou do estado do doente. É ali que ele tem que marcar a diferença. Nos exames nacionais passa-se o mesmo. É naqueles 120 minutos que o aluno prova se está realmente preparado para passar ao nível seguinte.

A nosso ver, as provas nacionais são uma forma justa de avaliar todos os alunos com critérios iguais. Para além disto, obrigam os professores a aumentar o nível de exigência durante o ano.

É verdade que os exames são difíceis. É verdade que podem adiar os sonhos de alguns. É verdade que o calendário de exames nem sempre é o mais adequado. Mas os exames nacionais são um mal necessário. Só podemos ser a favor da realização destas provas, e não só no 12º ano, mas também no 4º e 9º, para que só passe de ciclo quem está realmente preparado!

7) REDUZIR AS DISCIPLINAS E REORIENTAR OS PROGRAMAS

Se os alunos de hoje em dia saem mal preparados das escolas, isso é também culpa dos programas demasiado extensos e mal orientados e das disciplinas desnecessárias. Propomos, ao contrário do que se tem vindo a fazer até aqui, uma redução de disciplinas e a reorientação dos programas escolares que, em muitos casos, têm uma extensão exagerada e contêm, por vezes, matérias inúteis. Não interessa que os alunos do ensino secundário saibam grande quantidade de matérias, mas sim que aprendam muito bem aquilo que é realmente essencial e indispensável para a sua formação média. Aqueles que desejem prosseguir estudos devem encontrar na Universidade, aí sim, a instituição ideal para o aprofundamento e a especialização. Por conseguinte, defendemos a redução e, em certos casos, a reorientação dos programas escolares, com vista a estabelecer uma ligação inter-disciplinar e tornar o ensino mais lógico e articulado, tendo ainda em conta que o essencial deve prevalecer sobre o acessório.

Há ainda o pedagogismo supérfluo, que alonga e dispersa o conteúdo programático. Para os professores torna-se, assim, cada vez mais impraticável cumprir os programas na sua totalidade, e isso tem levado ao aumento da carga horária. Assim, chegamos ao contra-senso dos alunos ficarem mais tempo nas salas de aula para aprenderem menos! Se o Ensino se livrasse do pedagogismo inútil, bem como das disciplinas inúteis, não tenhamos dúvidas que os alunos não precisariam de estar tanto tempo nas salas de aula.

Somos contra as novas disciplinas tais como Educação para a Cidadania e Educação Sexual, que só servem para aumentar a carga horária e reduzir a atenção dos alunos das disciplinas e matérias mais importantes. Consideramos que as questões de foro moral devem ser reservadas às famílias, e que as matérias sensíveis de saúde pública e pessoal, ou questões de anatomia sexual podem e devem ser tratadas no âmbito das disciplinas de biologia.

8) ESTABELECER UM LIVRO ÚNICO PARA CADA DISCIPLINA

Contra o lóbi das empresas editoriais, defendemos a criação do livro único, solução que reduziria em muito a escandalosa despesa das famílias portuguesas no início de cada ano lectivo.

O Ministério da Educação abriria concurso para os manuais. Os autores concorreriam com as suas obras feitas com base no programa oficial nacional, e estas seriam avaliadas por um júri. Esse júri seria constituído por professores e técnicos consagrados da disciplina em causa. Representantes dos alunos e da Associação de Pais poderiam pronunciar-se sobre o conteúdo do livro mas, sobretudo, acerca das suas dimensões e peso. Após esse processo, com base nos resultados do júri, o ministério escolheria a melhor proposta.

Assim, ao contrário de alguns livros que são vendidos apenas a um punhado de escolas, o manual único estaria disponível para todos os alunos de cada ano lectivo, pelo que o custo da obra poderia baixar até um preço quase simbólico. O manual estaria em vigor durante, por exemplo, quatro ou cinco anos, no fim dos quais se procederia a novo concurso. Este prazo permitiria que o livro fosse reutilizado, reduzindo a despesa dos agregados familiares mais numerosos.

Para além disto, o manual terminaria com algumas confusões que habitualmente ocorrem nos exames nacionais, visto ser a única obra que contém o programa acerca do qual o teste se basearia.

Em síntese, o livro único acabaria com o problema dos preços excessivos dos manuais e, ao mesmo tempo, dificultaria o aparecimento de gralhas e erros (muito comuns actualmente), facilitando também o estudo para os exames nacionais.

9) AVALIAR OS PROFESSORES

Todos sabemos que há professores melhores que outros. E todos sabemos a influência que um professor tem na vida de um estudante. Um docente mal preparado pode por em causa o futuro dos seus alunos. Por toda esta responsabilidade, acreditamos que é essencial proceder a uma avaliação periódica e regular aos conhecimentos dos professores. A classificação obtida teria depois repercussões na posição do docente nas listas de colocações e, em casos de nota muito negativa, poria até em causa a sua colocação.

Para evitar que gente incompetente leccione nas escolas do nosso país (como hoje é cada vez mais frequente), defendemos que os professores também devem realizar exames nacionais!

10) PROMOVER A PRÁTICA DESPORTIVA

Seguimos a velha máxima grega «mens sana in corpore sano» (mente sã em corpo são). Orientados por este princípio, idealizamos uma juventude que reúna, tanto quanto possível, as melhores qualidades mentais e físicas. Não queremos uma juventude que, ainda que inteligente, esteja limitada pela debilidade física e pela preguiça. Queremos jovens activos, fortes e saudáveis. É possível e recomendável a todos os níveis conciliar o estudo com a vida desportiva. Só assim teremos uma juventude realmente completa e pronta para os mais diversos desafios. Propomos o aumento da carga curricular da disciplina de Educação Física, mas não nos ficamos por aí.

Defendemos a criação de uma organização nacional juvenil de cariz patriótico que, dividida em grupos locais, ofereça condições aos jovens para que estes, independentemente do seu rendimento, pratiquem o desporto que quiserem (ou, em alternativa, actividades lúdicas, como acampamentos ou teatro). Os núcleos locais participariam depois em torneios a nível nacional. Esta medida não só permitiria que todos os jovens portugueses praticassem desporto e estreitassem laços de conhecimento e amizade com gente de outros pontos do país, como incutiria na juventude valores como o orgulho nacional, o espírito de camaradagem, o esforço e o sacrifício em prol da comunidade.

11) HORÁRIOS MAIS ADEQUADOS

Em muitas escolas os horários são um completo absurdo, com «furos» no meio das manhãs e tardes, e sem a devida regularidade de entrada e saída das aulas. Ora, esta situação cria instabilidade na agenda semanal dos jovens, e não é propícia ao correcto planeamento do estudo e ao aproveitamento dos tempos livres.

Defendemos que, sempre que possível, os horários devem ser concentrados no período da manhã, deixando, durante todos os dias da semana, mais tempo livre no período da tarde. Esses períodos livres podem ser ocupados com desporto e actividades culturais e recreativas edificantes, ou explicações para os alunos com menor aproveitamento. O resto do tempo seria deixado totalmente livre, para cada aluno planear o seu estudo e restantes actividades extra-curriculares.

12) APOIAR E INVESTIR NO ENSINO INDUSTRIAL E TECNOLÓGICO

Ano após ano, as estatísticas europeias mostram que o nosso país é um dos que tem menos licenciados da Europa. Como resposta, os sucessivos governos tentaram inverter a situação, construindo institutos politécnicos e abrindo múltiplos cursos sem critério. A opção pela quantidade ao invés da qualidade também tem feito surtir os seus efeitos negativos. A verdade é que dezenas (quase centenas) de licenciaturas não têm qualquer utilidade no mercado de trabalho (como uns tais Estudos Africanos). Além disso, com a fraca exigência dos institutos politécnicos, que até há bem pouco tempo nem requeriam nota mínima de candidatura, Portugal tem formado muito e mal. Ou seja, o país tem tentado combater as estatísticas despejando milhares de licenciados no desemprego. Afinal, parece que o que interessa é dar «canudos ao pessoal»…

O que falta mesmo em Portugal é um verdadeiro ensino tecnológico de nível médio, que prepare os jovens para o mercado de trabalho, conferindo-lhes competências avançadas e permanentemente actualizadas. Um ensino gratuito (ou pelo menos económico, ao invés do que se passa hoje) e não marginal (como é hoje), paralelo ao secundário e que seja amplamente divulgado junto dos estudantes.

Porque o que falta hoje em Portugal não são licenciados avulsos mas sim técnicos especializados nas mais diversas áreas tecnológicas, tais como a mecânica, robótica, informática, electrónica, química, agronomia, etc.

Para este ensino, deve haver uma forte relação com a matriz económica, que potencie estágios em empresas, fábricas e explorações agrícolas, bem como um eficaz sistema coordenador para a colocação dos jovens formados no mercado de trabalho.

«A Monarquia e a sua Lei»

Por Corneliu Zelea Codreanu (traduzido por Rodrigo Emílio)

À frente da Raça, sobrepondo se aos seus núcleos de selecção, avulta a Monarquia.

Recuso a república.

Ao longo da História, bons Monarcas houve, muitos deles óptimos, alguns débeis, outros maus; uns, honrados, que fruíram do amor do(s) seu(s) povo(s) até ao fim da vida; outros a quem cortaram a cabeça. Nem todos os Monarcas foram bons.

A Monarquia, em si, porém, sempre foi boa: é sempre boa.

Convém não confundir a instituição ou regime com os homens que, episodicamente, povoaram ou povoam uma e outro, deduzindo daí conclusões precipitadas e/ou daí retirando falsas consequências.

Pode haver maus sacerdotes e nem por isso é lícito admitir a eventualidade ou advogar a necessidade de se proceder à dissolução da Igreja e à refutação de Deus.

Há, seguramente que sim, Monarcas débeis, outros maus, mas não se segue daí que possamos, lá por isso, contestar ou rejeitar a Monarquia.

Na faina agrícola, a um ano bom sucede um mau, ou dois maus anos a fio seguem se, por vezes, a um bom; apesar disso, não passa pela cabeça de ninguém a ideia de abandonar a agricultura por tão pouco.

Faz um Rei o que quer? E então, nesse caso, quando é que Ele é grande, quando é que é pequeno? Quando é bom e quando mau?

Um Monarca não faz só o que bem Lhe apetece; um Monarca é pequeno quando faz o que quer, e grande quando faz o que deve.

Existe uma linha da vida da Raça. Um Monarca é grande e é bom sempre que se mantém fiei a essa linha, e dentro dela, e pequeno e mau na medida em que se afaste dela ou a ela se oponha.

Esta é a lei da Monarquia.

Outras linhas há que podem também fascinar um Monarca: a linha dos interesses pessoais, a dos interesses de grupo, a dos de casta e extracção social, a dos interesses sectoriais, a linha dos interesses estrangeiros, seja ela abraçada intra ou extramuros.

Deve o Monarca postergá las, a todas, e seguir a linha da Raça.