Julius Evola: «Orientações» para nos mantermos de pé
Por Anónimo (in Último Reduto)
A obra de Julius Evola é tão ampla como diversificada e seria um grave erro querer encontrar – como alguns tentaram – contradições no seu conjunto. O que existe é uma variação de perspectiva à medida que Evola adquiria novas experiências e que o mundo moderno adoptava paulatinamente a sua forma actual. O pensamento de Evola é uma das componentes referenciais que constituem a base ideológica da nossa comunidade editorial e política. Dois textos merecem leitura atenta: «Cavalgar o Tigre» e «Orientações». Do segundo, ocupamo-nos de seguida.
Orientações: Apenas para homens que se mantêm de pé
É difícil encontrar um pequeno livro que contenha as ideias mais radicais. O texto original foi publicado na revista «Imperium» no princípio dos anos 50 e viria a sofrer sucessivas, mas ligeiras, correcções até 1971. Foi publicado em diversos países e as teses que contém seriam desenvolvidas posteriormente no livro «Os Homens e as Ruínas».
"É inútil termos ilusões perante a quimera de qualquer optimismo: nos nossos dias encontramo-nos no final de um ciclo. Com o transcurso de séculos, primeiro imperceptivelmente, depois como o movimento de uma massa que cai a prumo, múltiplos processos destruíram no Ocidente todo o ordenamento normal e legítimo dos homens, inclusivamente falsificaram a mais alta concepção de viver, da acção, do conhecimento e do combate. E o movimento desta queda, a sua velocidade, o seu vértice, foi chamado «progresso»."
Este processo, analisado por Evola mais à frente, leva-o a considerar que nós nos encontramos no meio do conjunto de ruínas que constituem o actual mundo moderno.
"A única coisa que conta é isto: hoje encontramo-nos no meio de um mundo em ruínas. E o problema é este: existem ainda homens em pé no meio destas ruínas? E que coisas devem ou podem ainda fazer? Qual deve ser a sua orientação?"
A via proposta por Evola é difícil e atípica para a mentalidade moderna: uma revolta integral e a negação do espírito moderno em função dos valores que iluminaram os momentos mais altos e os períodos mais importantes da cultura. Isolar estes valores, para além das coordenadas de lugar e tempo, despi-los das contingências que poderiam albergar, é oferecer aos que todavia se mantêm de pé – os que não aceitam a decadência dos tempos modernos – uma concepção do mundo, uma causa para viver e uma ideia para lutar.
O Espírito Legionário
Dificilmente um burguês-médio, ou um proletário desejoso de ascender na escala social, poderiam compreender o que Evola propõe. Para assumir essa concepção do mundo é preciso adoptar um estado de espírito diferente.
"No sentido espiritual, existe efectivamente algo que pode servir como orientação para as nossas forças de resistência e de revolta: este algo é o espírito legionário. É a atitude de quem sabe escolher o caminho mais duro, de quem sabe combater ainda que sabendo que a batalha está materialmente perdida, de quem sabe reviver e revalidar as palavras da antiga saga: «A fidelidade é mais forte do que o fogo»."
Os que assumirem o «espírito legionário» são homens em pé-de-guerra; gentes que exprimem um profundo mal-estar quando contemplam a realidade que os rodeia e que não têm a mínima intenção de se unirem à presente onda de conformismo. Não é de estranhar pois que, no seu comportamento quotidiano, assumam um estilo diferente. Esse estilo confirma um tipo humano distinto.
"O «estilo» que deve imperar é o de quem se mantém em posição de fidelidade a si mesmo e a uma ideia, numa intensidade conjunta, de uma repulsa por toda a conveniência, num empenho total que se deve manifestar não só na luta política, mas também em toda a expressão da existência: no escritório, no local de trabalho, na universidade, na rua, mesmo na vida pessoal dos afectos e sentimentos."
Isolar os males, administrar os remédios
O processo de destruição de todos os valores antagónicos ao economicismo e ao hedonismo, produz-se no Ocidente em determinado momento histórico e permite o desenvolvimento de outra concepção do mundo e da vida. Evola identifica estes elementos no Renascimento e no Humanismo e são eles que permitem o avanço do individualismo.
"O princípio desta queda reside no facto do homem ocidental ter rompido os vínculos com a tradição, desconhecer cada símbolo superior da autoridade e da soberania, reivindicar para si mesmo, como indivíduo, uma liberdade vã e ilusória, convertendo-se num átomo em vez de parte integrante da unidade orgânica e hierárquica de um todo. O átomo, finalmente, tinha que chocar contra a massa dos outros átomos, dos demais indivíduos e ser envolvido no meio da emergência do reino da quantidade, do puro número, da massa materializada, não tendo outro Deus senão a economia soberana."
A partir de então, Evola encadeia perfeitamente o processo de decadência: Humanismo, Renascimento, Reforma, Individualismo, Enciclopedismo, Liberalismo económico, Democracia, Radicalismo, Socialismo, Comunismo… escalões descendentes, todos eles produtos de uma mesma matriz.
É evidente que face a este processo encadeado, não pode levantar-se uma alternativa baseada na tibieza: também neste terreno, ceder um pouco é capitular muito. Daí que Evola defenda uma linha intransigente e de aço na construção da alternativa ao mundo moderno.
"E, sobretudo, deve-se estar consciente de que com a subversão não se compactua, que fazer concessões hoje significa condenar-se e ser completamente envolvido amanhã. Intransigência da ideia, portanto, e rapidez em avançar com as forças puras quando chegue o momento adequado."
Afastar a ideia de Progresso
Tudo no mundo moderno é sustentado pela ideia de «progresso», uma ideia que nunca está presente na Natureza e que pretende que do inferior nasça o superior, que de forma automática e sempre, se alcancem estádios superiores de civilização. O «progressismo» move-se em duas frentes: em primeiro lugar procura a novidade «custe o que custar», dinamitando tudo aquilo que não seja novo e original. Em segundo lugar, tende a assimilar o progresso ao bem-estar económico e social.
É muito difícil romper este mito, mas nele está contida a lógica de erro do actual sistema: a democracia é o melhor sistema possível porque, do inferior – o corpo eleitoral – surge o superior – os parlamentos e os governos –, e o tempo moderno, como oferece melhores condições e níveis de vida ao ocidental, é considerado superior ao mundo antigo e aos seus valores.
Para Evola, o essencial não é criar novos valores, mas sim recuperar para a nossa época os valores do passado que possam qualificar-se em rigor de superiores. Os ideais de «Imperium», «Estado Orgânico», «Economia Comunitária», os valores em que se baseava o mundo clássico – partilhados pelos legionários de Roma e pelas ordens de cavalaria – podem ser isolados, resgatados e transportados para o séc. XXI com a condição de que haja homens que os saibam honrar.
Contra o economicismo. Contra o igualitarismo
Mas há outros elementos importantes em «Orientações»:
"É justamente em períodos de crise, como o actual, que é necessário mantermo-nos firmes nesta doutrina. Na Ideia reconhece-se a nossa verdadeira Pátria. Não é o ser filho de uma mesma terra ou ter uma mesma língua, mas sim ser de uma mesma ideia aquilo que conta hoje. Esta é a base, o ponto de partida. À unidade colectiva da nação – «les enfants de la patrie» – como sempre predominou desde a revolução jacobina até aos nossos dias, nós opomos algo que é uma Ordem, homens fiéis a princípios, testemunhas de uma autoridade superior e legitimidade procedente exactamente da Ideia."
Aqui não há lugar para sentimentalismos, nem para falsos mitos chauvinistas ou segregacionistas. O populismo demagógico é igualmente recusado desde que pressuponha uma concepção uniformizada e igualitária do conjunto, face à ideia hierárquica e orgânica.
Em meados do século passado, uma ideia veio trazer novos elementos demolidores: tratava-se do economicismo, ou melhor, o desejo de resumir todos os valores aos que têm relação com factores exclusivamente económicos ou materiais. A existência do capitalismo como forma de produção gerou a entrada em cena do socialismo, que pretendia estender a qualidade de proprietários a toda a colectividade.
Sob o ponto de vista evoliano, isto carece de grande interesse, tanto na versão socialista marxista como na socialista nacional. É evidente que os que combatem o mundo moderno, fazem-no também contra as formas de injustiça que se geram no seu interior, não como motivação prioritária, mas como consequência secundária da sua opção política e da sua concepção do mundo.
Recuperar a Ideia de Estado
A ligação entre ideologias e estruturas deletérias desde o Renascimento até aos nossos dias teve como consequência a destruição da ideia de Estado. Onde há igualitarismo não pode haver hierarquia. A noção de Estado pressupõe a noção de hierarquia. Recuperar a noção de Estado passa pela criação de novas hierarquias; estas formam-se através da maior ou menor aproximação aos novos valores e é modelado numa forma concreta: o Estado Orgânico.
Estado Orgânico significa: Estado que respeite a autonomia das partes, que articule as distintas unidades que o formam, evitando tanto a uniformização absorvente e totalitária, como a renúncia ao exercício de qualquer tipo de autoridade.
A obra de Julius Evola é tão ampla como diversificada e seria um grave erro querer encontrar – como alguns tentaram – contradições no seu conjunto. O que existe é uma variação de perspectiva à medida que Evola adquiria novas experiências e que o mundo moderno adoptava paulatinamente a sua forma actual. O pensamento de Evola é uma das componentes referenciais que constituem a base ideológica da nossa comunidade editorial e política. Dois textos merecem leitura atenta: «Cavalgar o Tigre» e «Orientações». Do segundo, ocupamo-nos de seguida.
Orientações: Apenas para homens que se mantêm de pé
É difícil encontrar um pequeno livro que contenha as ideias mais radicais. O texto original foi publicado na revista «Imperium» no princípio dos anos 50 e viria a sofrer sucessivas, mas ligeiras, correcções até 1971. Foi publicado em diversos países e as teses que contém seriam desenvolvidas posteriormente no livro «Os Homens e as Ruínas».
"É inútil termos ilusões perante a quimera de qualquer optimismo: nos nossos dias encontramo-nos no final de um ciclo. Com o transcurso de séculos, primeiro imperceptivelmente, depois como o movimento de uma massa que cai a prumo, múltiplos processos destruíram no Ocidente todo o ordenamento normal e legítimo dos homens, inclusivamente falsificaram a mais alta concepção de viver, da acção, do conhecimento e do combate. E o movimento desta queda, a sua velocidade, o seu vértice, foi chamado «progresso»."
Este processo, analisado por Evola mais à frente, leva-o a considerar que nós nos encontramos no meio do conjunto de ruínas que constituem o actual mundo moderno.
"A única coisa que conta é isto: hoje encontramo-nos no meio de um mundo em ruínas. E o problema é este: existem ainda homens em pé no meio destas ruínas? E que coisas devem ou podem ainda fazer? Qual deve ser a sua orientação?"
A via proposta por Evola é difícil e atípica para a mentalidade moderna: uma revolta integral e a negação do espírito moderno em função dos valores que iluminaram os momentos mais altos e os períodos mais importantes da cultura. Isolar estes valores, para além das coordenadas de lugar e tempo, despi-los das contingências que poderiam albergar, é oferecer aos que todavia se mantêm de pé – os que não aceitam a decadência dos tempos modernos – uma concepção do mundo, uma causa para viver e uma ideia para lutar.
O Espírito Legionário
Dificilmente um burguês-médio, ou um proletário desejoso de ascender na escala social, poderiam compreender o que Evola propõe. Para assumir essa concepção do mundo é preciso adoptar um estado de espírito diferente.
"No sentido espiritual, existe efectivamente algo que pode servir como orientação para as nossas forças de resistência e de revolta: este algo é o espírito legionário. É a atitude de quem sabe escolher o caminho mais duro, de quem sabe combater ainda que sabendo que a batalha está materialmente perdida, de quem sabe reviver e revalidar as palavras da antiga saga: «A fidelidade é mais forte do que o fogo»."
Os que assumirem o «espírito legionário» são homens em pé-de-guerra; gentes que exprimem um profundo mal-estar quando contemplam a realidade que os rodeia e que não têm a mínima intenção de se unirem à presente onda de conformismo. Não é de estranhar pois que, no seu comportamento quotidiano, assumam um estilo diferente. Esse estilo confirma um tipo humano distinto.
"O «estilo» que deve imperar é o de quem se mantém em posição de fidelidade a si mesmo e a uma ideia, numa intensidade conjunta, de uma repulsa por toda a conveniência, num empenho total que se deve manifestar não só na luta política, mas também em toda a expressão da existência: no escritório, no local de trabalho, na universidade, na rua, mesmo na vida pessoal dos afectos e sentimentos."
Isolar os males, administrar os remédios
O processo de destruição de todos os valores antagónicos ao economicismo e ao hedonismo, produz-se no Ocidente em determinado momento histórico e permite o desenvolvimento de outra concepção do mundo e da vida. Evola identifica estes elementos no Renascimento e no Humanismo e são eles que permitem o avanço do individualismo.
"O princípio desta queda reside no facto do homem ocidental ter rompido os vínculos com a tradição, desconhecer cada símbolo superior da autoridade e da soberania, reivindicar para si mesmo, como indivíduo, uma liberdade vã e ilusória, convertendo-se num átomo em vez de parte integrante da unidade orgânica e hierárquica de um todo. O átomo, finalmente, tinha que chocar contra a massa dos outros átomos, dos demais indivíduos e ser envolvido no meio da emergência do reino da quantidade, do puro número, da massa materializada, não tendo outro Deus senão a economia soberana."
A partir de então, Evola encadeia perfeitamente o processo de decadência: Humanismo, Renascimento, Reforma, Individualismo, Enciclopedismo, Liberalismo económico, Democracia, Radicalismo, Socialismo, Comunismo… escalões descendentes, todos eles produtos de uma mesma matriz.
É evidente que face a este processo encadeado, não pode levantar-se uma alternativa baseada na tibieza: também neste terreno, ceder um pouco é capitular muito. Daí que Evola defenda uma linha intransigente e de aço na construção da alternativa ao mundo moderno.
"E, sobretudo, deve-se estar consciente de que com a subversão não se compactua, que fazer concessões hoje significa condenar-se e ser completamente envolvido amanhã. Intransigência da ideia, portanto, e rapidez em avançar com as forças puras quando chegue o momento adequado."
Afastar a ideia de Progresso
Tudo no mundo moderno é sustentado pela ideia de «progresso», uma ideia que nunca está presente na Natureza e que pretende que do inferior nasça o superior, que de forma automática e sempre, se alcancem estádios superiores de civilização. O «progressismo» move-se em duas frentes: em primeiro lugar procura a novidade «custe o que custar», dinamitando tudo aquilo que não seja novo e original. Em segundo lugar, tende a assimilar o progresso ao bem-estar económico e social.
É muito difícil romper este mito, mas nele está contida a lógica de erro do actual sistema: a democracia é o melhor sistema possível porque, do inferior – o corpo eleitoral – surge o superior – os parlamentos e os governos –, e o tempo moderno, como oferece melhores condições e níveis de vida ao ocidental, é considerado superior ao mundo antigo e aos seus valores.
Para Evola, o essencial não é criar novos valores, mas sim recuperar para a nossa época os valores do passado que possam qualificar-se em rigor de superiores. Os ideais de «Imperium», «Estado Orgânico», «Economia Comunitária», os valores em que se baseava o mundo clássico – partilhados pelos legionários de Roma e pelas ordens de cavalaria – podem ser isolados, resgatados e transportados para o séc. XXI com a condição de que haja homens que os saibam honrar.
Contra o economicismo. Contra o igualitarismo
Mas há outros elementos importantes em «Orientações»:
"É justamente em períodos de crise, como o actual, que é necessário mantermo-nos firmes nesta doutrina. Na Ideia reconhece-se a nossa verdadeira Pátria. Não é o ser filho de uma mesma terra ou ter uma mesma língua, mas sim ser de uma mesma ideia aquilo que conta hoje. Esta é a base, o ponto de partida. À unidade colectiva da nação – «les enfants de la patrie» – como sempre predominou desde a revolução jacobina até aos nossos dias, nós opomos algo que é uma Ordem, homens fiéis a princípios, testemunhas de uma autoridade superior e legitimidade procedente exactamente da Ideia."
Aqui não há lugar para sentimentalismos, nem para falsos mitos chauvinistas ou segregacionistas. O populismo demagógico é igualmente recusado desde que pressuponha uma concepção uniformizada e igualitária do conjunto, face à ideia hierárquica e orgânica.
Em meados do século passado, uma ideia veio trazer novos elementos demolidores: tratava-se do economicismo, ou melhor, o desejo de resumir todos os valores aos que têm relação com factores exclusivamente económicos ou materiais. A existência do capitalismo como forma de produção gerou a entrada em cena do socialismo, que pretendia estender a qualidade de proprietários a toda a colectividade.
Sob o ponto de vista evoliano, isto carece de grande interesse, tanto na versão socialista marxista como na socialista nacional. É evidente que os que combatem o mundo moderno, fazem-no também contra as formas de injustiça que se geram no seu interior, não como motivação prioritária, mas como consequência secundária da sua opção política e da sua concepção do mundo.
Recuperar a Ideia de Estado
A ligação entre ideologias e estruturas deletérias desde o Renascimento até aos nossos dias teve como consequência a destruição da ideia de Estado. Onde há igualitarismo não pode haver hierarquia. A noção de Estado pressupõe a noção de hierarquia. Recuperar a noção de Estado passa pela criação de novas hierarquias; estas formam-se através da maior ou menor aproximação aos novos valores e é modelado numa forma concreta: o Estado Orgânico.
Estado Orgânico significa: Estado que respeite a autonomia das partes, que articule as distintas unidades que o formam, evitando tanto a uniformização absorvente e totalitária, como a renúncia ao exercício de qualquer tipo de autoridade.
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