Como nota prévia à 2.ª edição da
minha Antologia de Salazar (1955), escrevi: "Nesta época de
superficialidades, incertezas e contradições que o mundo vive, destaca-se
singularmente o pensamento de Salazar - vigoroso, firme e profundo, a traçar
directrizes seguras em relação aos problemas essenciais da vida e da pessoa
humana. "A ordem cronológica e a
diversidade das fontes dos extractos fazem avultar a constância do pensamento
de Salazar: igual em 1909 como em 1955, igual nos discursos, como nos artigos
de jornal e nas entrevistas - a mesma directriz, sempre a mesma certeza... e
até a mesma actualidade!".
E em nota prévia à 3.ª edição (1966):
"0 tempo decorrido veio plenamente confirmar a justeza destas palavras -
que hoje se revestem ainda de mais acentuada oportunidade. "Mas o estilo próprio e único de Salazar
revela-se igualmente na acção; observe-se, por exemplo, a sua imediata e feliz
reforma fiscal de 1929: que simplicidade e concisão de linguagem - e que
facilidade de execução, tanto para os serviços como para os contribuintes!
"Outro claro exemplo desse
estilo próprio e único, tanto de dizer como de agir, é a sua recente frase, que
fez história: "Para Angola, rapidamente e em força!".
"De Salazar se pode dizer: UMA
VIDA CONSAGRADA AO SERVIÇO DA NAÇÃ0.
"Para avaliar da grandeza da
obra de Salazar é necessário ter presente a dificílima situação do País, em
todos os sectores, quando tomou conta dos seus destinos: há 40 anos ninguém
teria ousado desejar que se viesse a realizar tanto como o que efectivamente se
alcançou - e a maior parte das aspirações durante muitos anos debalde
formuladas na imprensa e no parlamento designadamente as da Igreja, antes tão
maltratada -, só com Salazar vieram a ser satisfeitas". Ora, ainda hoje se pode dizer isso mesmo de
Salazar: trabalhava, a tempo inteiro, pela Nação; sempre calmamente, sem
pressas nem enervamentos - e em que tudo, de forma natural, tinha a sua ordem e
hierarquia. Era meticuloso, tanto nas
coisas grandes como pequenas.
No célebre discurso 0 Meu Depoimento,
proferido no Palácio da Bolsa do Porto, em 7 de Janeiro de 1949, começou por
dizer assim:
"Devo à Providência a graça de
ser pobre: sem bens que valham, por muito pouco estou preso à roda da fortuna,
nem falta me fizeram nunca lugares rendosos, riquezas, ostentações. E para ganhar, na modéstia em que me habituei
e em que posso viver, o pão de cada dia não tenho de enredar-me na trama dos
negócios ou em comprometedoras solidariedades.
Sou um homem independente.
"Nunca tive os olhos postos em
clientelas políticas nem procurei formar partido em que me apoiasse mas em paga
do seu apoio me definisse a orientação e os limites da acção governativa. Nunca lisonjeei os homens ou as massas,
diante de quem tantos se curvam no Mundo de hoje, em subserviências que são uma
hipocrisia ou uma abjecção. "Se
lhes defendo tenazmente os seus interesses, se me ocupo das reivindicações dos
humildes, é pelo mérito próprio e imposição da minha consciência de governante,
não por ligações partidárias ou compromissos eleitorais que me estorvem. Sou, tanto quanto se pode ser, um homem
livre". E assim continuou o seu
discurso...
É fora de dúvida que Salazar sempre
levou uma vida modesta - como bem modesta era a sua "moradia" em
Santa Comba; a sua alimentação era a de qualquer português da classe
média. Quando saía, a sua
"segurança" era feita apenas por um carro da PIDE, com um agente e um
inspector.
Indiscutivelmente, tinha Salazar um
estilo de vida naturalmente simples: não procurava aplausos de multidões; e embora
fosse exigente quanto à justiça que julgava ser-lhe devida, não era muito
sensível propriamente a elogios que, por vezes, encobriam desejos de
benesses.
Mas amigos tive, que não pensavam
assim; e foram curiosos nos seus pontos de vista. Um dia, no Rossio, encontrei o Dr. Sá
Nogueira, figura imponente, ligado à Oposição, então Presidente da Ordem dos
Advogados, e a quem chamavam o "Bengalário da Ordem", por andar
sempre de bengala. E falando nós de
Salazar, disse-me: "Realmente, ele é excepcional, em cultura e seriedade,
esta muito acima disto tudo... Eu só não lhe perdoo... é que ele é um vaidoso,
disfarçado de modesto!".
Numa tarde de férias em Lousado, ouvi
um amigo que muito bem conhecia Salazar, dizer assim: "Ele gosta da glória
de desprezar a glória!".
Salientei atrás que, com Salazar, e
naturalmente, tudo tinha a sua vez - a sua hierarquia. Ora, curioso é notar que, mesmo depois,
quando já muito doente, o pouco de vida que dele restava ainda mantinha essa
sua personalidade. Assim:
Poucos meses antes do seu falecimento, minha
Mulher telefonou à D. Maria, pedindo ao Senhor Presidente que nos recebesse - e
ao casal do Dr. José Manuel da Costa (chefe de gabinete com quem eu tinha
servido).
Dias depois a resposta afirmativa
veio assim: "Primeiro, às 15 horas, o Dr. José Manuel da Costa e D. Maria
Emília; e depois, às 15.30 horas, o Dr. Manuel da Fonseca e D.
Maria Delfina".
Para evitar fadiga, a visita era só
um de cada vez. Assim, quando entrei,
após os cumprimentos, Salazar disparou-me a pergunta: "Então o que vai lá
por fora?". Ora como se mantinha a
dúvida sobre se Salazar saberia da sua substituição.... fugi à resposta - e
disse que continuava o mau tempo e que até ali pela janela se viam as nuvens
muito escuras... A resposta desejada não era esta, mas Salazar não insistiu na
pergunta...
Como escreveu Marcello Caetano, na
Enciclopédia Verbo (rubrica "Estado Novo"): "Após a Primeira
Grande Guerra, produziu-se a crise da concepção liberal e individualista do
Estado, manifestando-se em muitos países europeus a necessidade de uma nova
concepção que permitisse a intervenção do Estado na vida económica,
condicionasse o exercício das liberdades individuais afirmando a supremacia do
interesse geral e favorecesse a protecção e promoção social das classes
trabalhadoras num clima de paz social.
"Os regimes, em geral saídos de
revoluções nacionais, que procuraram pôr em prática essa forma autoritária e
social de governo, disseram-se defensores do Estado Novo". Assim, tivemos realmente em Portugal um
regime de autoridade, de raiz nacional; porém de forma nenhuma totalitário, ou
de cunho "fascista".
Mas um juízo correcto sobre a obra do
Estado Novo impõe a sua comparação com as dos regimes, quer anterior quer
posterior.
Regime anterior (1910-26).
Como regra, o País estava quase na
estaca zero. Por exemplo: o escudo era
das moedas mais desacreditadas da Europa; meses houve com os vencimentos dos
funcionários pagos com atraso; câmaras municipais, e até casas comerciais,
imprimiam "cédulas", que tinham valor local de papel-moeda; os
governos eram mais que provisórios e as revoluções mais que frequentes; não
havia portos minimamente equipados, nem barcos capazes, quer de pesca ou
marinha mercante; em todo o Norte do país, não havia fábrica alguma com técnico
engenheiro ou de Economia; praticamente nada de pontes novas, de edifícios
escolares, de novos hospitais, de edifícios novos para o Exército e para a
Marinha, nem equipamentos - e nem sequer eram reparados os frequentes e grandes
buracos das estradas, mesmo principais; pelo menos nas aldeias do Norte,
sucessivos grupos de pobres (um dia certo da semana) batiam às portas, a pedir
esmola; e a caminho das grandes romarias, mendigos exibiam suas chagas e
aleijões, clamando por uma "esmolinha".
Houve, porém, uma nota muito positiva
deste regime: os seus políticos responsáveis eram francamente patriotas - e,
como assim, defensores do Ultramar: ver Nação Una, de Norton de Matos, com
prefácio de Egas Moniz e comentário do Prof.
Barbosa de Magalhães; e em 1953, Norton de Matos voltou a publicar
África Nossa. E Cunha Leal, Nuno Simões,
Ramada Curto, etc.
Nas Forças Armadas: nos últimos anos
da Monarquia, muitos dos Heróis de África eram republicanos - e tal como depois
na República, muitos eram monárquicos: acima da política, triunfava o
patriotismo português. Aliás, a letra do
que veio a ser Hino Nacional é eloquente testemunho do patriotismo dessa época
- e tal como, depois, no Estado Novo.
Estado Novo (1926-44).
Graças à acção de Salazar, o País entrou em
franca recuperação, em todos os sectores.
Assim:
1)
pronta reabilitação do escudo, que veio a ser
das moedas mais valorizadas do mundo, a par do dólar americano e do franco
suíço; orçamentos não equilibrados; não mais vencimentos em atraso;
substituição e sucessivo aumento de reservas de ouro, que no fim do regime eram
perto de 900 toneladas; insignificante dívida pública, externa e interna,
sempre limitadas a níveis tidos por convenientes;
2)
obras públicas: grande rede de edifícios
escolares, a todos os níveis de ensino; aeroportos e remodelação de portos;
novos hospitais, e tribunais, e quartéis para o Exército, Marinha e Aviação;
remodelação das estradas e construção de pontes; reparação de edifícios e
monumentos nacionais, etc. etc., e a Ponte Salazar; 3) grandes barragens, quer de energia
eléctrica, quer de irrigação agrícola e abastecimento público; florestação de
várias serras, sem árvores; planos de fomento; arranque do desenvolvimento quer
industrial, quer do turismo (de início, com as
Pousadas; depois, com médios e
grandes hóteis), etc. etc.;
4) no campo social: deixou de haver quer grupos
de pobres a pedir pelas portas, quer filas de mendigos, em dias de romaria; e
início de salários mínimos, horário de trabalho, abono de família e assistência
médica e medicamentosa; construção de esplêndidos bairros sociais, com casas
adquiridas por encargo mensal compatível com os salários de então; e criação
das Casas do Povo e Casas dos Pescadores; e férias na FNAT, a preço acessível
aos trabalhadores; e cursos de Formação Profissional Acelerada, etc. etc.; 5) fomento do ensino a todos os níveis - e
criação do ensino técnico-profissional, nas escolas comerciais e industriais e
agrícolas; grande campanha contra o analfabetismo, em grande parte vindo do
regime anterior;
6) celebração
da Concordata com a Santa Sé, a pôr termo a injustiças sofridas pela
Igreja Católica - e assegurando-Ihe
liberdade de culto;
7) a
grandiosa Exposição do Mundo Português, em frente ao Mosteiro dos
Jerónimos; 8) construção de grandes
paquetes: Santa Maria, Vera Cruz e Infante D. Henrique;
9) e, principalmente, o espectacular
sucesso no campo da cultura: Artes, Letras e Ciências.
Com efeito: o sentido quer de
dignidade, quer de grandeza que o Estado Novo imprimiu à vida nacional, em
breves anos fez com que surgisse uma vasta plêiade de grandes valores, tanto na
Situação, como na Oposição, com nomes que o povo ainda bem recorda e que agora
não têm par. Apenas uma breve resenha:
Medicina: Egas Moniz (prémio Nobel, em 1943) e Francisco Gentil (fundador do
Instituto Português de
Oncologia); Matemática: Bento Caraça,
Vicente Gonçalves, Esparteiro, Mira
Fernandes; Engenharia: Duarte
Pacheco, Edgar Cardoso, etc.; Escultura: Francisco
Franco, Leopoldo de Almeida, Barata
Feyo, etc.; Arquitectura: Raul Lino, Cotinelli
Telmo, Januário Godinho, etc.;
Pintura: Vieira da Silva, Almada Negreiros, João Reis,
Henrique Medina, Cargaleiro, Carlos
Botelho, etc.; Direito: em Coimbra, Alberto dos Reis e Antunes Varela; em
Lisboa, Marcello Caetano, Cavaleiro Ferreira, etc.; Advocacia: Bostorf Silva,
J. G. Sa' Carneiro, Azeredo Perdigão, etc.; Teatro e cinema: actrizes: Rey
Collaço, Maria Mattos, Palmira Bastos e Laura Alves; actores: Vasco Santana,
António Silva, Vilarett, Ribeirinho, etc.; Escritores: Júlio Dantas, Aquilino
Ribeiro, Vitorino Nemésio, Miguel
Torga, Fernando Namora, etc. etc.; Poetas: José'
Régio, Correia de Oliveira, Moreira
das Neves, etc.; jornalistas: António Ferro,
Norberto Lopes, Ferreira da Costa;
Historiadores: Alfredo Pimenta, Damião Peres,
Jaime Cortesão, António José Saraiva,
Franco Nogueira; Realizadores de cinema: Lopes Ribeiro, Leitão de Barros, Artur
Duarte, com filmes que ainda hoje se recordam e são vistos com muito agrado na
televisão; Música: piano: Viana da Motta, Varela Cid, Maria João Pires;
violoncelo: Guilhermina Suggia; maestros e compositores: Freitas Branco,
Frederico de Freitas, Tavares Belo, Ruy Coelho, Jolli Braga Santos; canções
populares: Alberto Ribeiro; fado: Alfredo Marceneiro, Hermínia Silva, Amália
Rodrigues; Cultura popular: renasce o artesanato, em peças de barro e cerâmica,
e de ferro forjado e de cobre; e surgem grupos folclóricos, por todo o País, e
que de tudo foi grande impulsionador António Ferro.
Depois do 25 de Abril de l974.
Muitos foram os sectores da vida nacional que
entraram em decadência. Assim: 1) empobrecimento do País: o escudo passou a
queda deslizante (quanto valia e quanto vale, em relação à peseta?); muitas
toneladas de ouro foram vendidas ou hipotecadas (quantas?); grande baixa do
stock de divisas/dólar (quanto era e quanto é?); brutal aumento da circulação
fiduciária (era de 49 milhões de contos; e agora, de quanto é?); a inflação,
que era muito baixa, subiu em flecha, tendo ultrapassado muito os 20 por cento/ano;
e sobretudo: brutalíssimo aumento da dívida pública, interna e externa (de
quanto são? e como vão ser pagas?);
2) grande
aumento da corrupção: só no IARN e na Reforma Agrária, os desvios.
ultrapassam, em muito, tudo quanto
foi "desviado" nos quarenta e oito anos do regime anterior! - e que é
feito do antigo Fundo Militar do Ultramar?
Dantes, apontavam-se... os que se "governavam" agora,
apontam-se os que são sérios;
3) e
não é só desonestidade a nível das pessoas: onde está, minimamente, a seriedade
de um regime que permite a retirada - ou mesmo destruição - de estátuas e
outros símbolos da época em que foram feitos? - e que muda nomes de pontes, de
estádios, etc., pondoIhes outros, ligados ao regime actual? Assim disse o Cardeal Patriarca de Lisboa, em
recente homilia pascal: "Quem não se apercebe da duplicidade de
comportamentos, da ambiguidade de atitudes, dos jogos de poder, numa palavra,
da desonestidade reinante, por vezes em nome do progresso e da modernidade dos
tempos?";
4) obras
públicas: sofreram forte declínio; apenas com o actual Governo, de Cavaco
Silva, se voltou ao ritmo do Estado Novo (só que, agora, grande parte é com
fundos comunitários europeus);
5) e
casas de habitação? Em 25 de Abril de
1974, em Lisboa e arredores, havia um défice de 15-20 000
begin_of_the_skype_highlighting
15-20
000 end_of_the_skype_highlighting habitações;
com a "via socialista", o défice passou a 150-200 000
begin_of_the_skype_highlighting
150-200
000 end_of_the_skype_highlighting! - e todos
os anos se vai agravando! Como é
que um casal de trabalhadores pode
agora arrendar ou comprar uma casa - como durante o Estado Novo?
6) galopante
aumento do custo de vida: já muitos trabalhadores, e muitíssimos reformados,
vivem hoje pior que antes do 25 de Abril;
7) e
até crise cultural; com flagrante objectividade, o insuspeito e antigo
oposicionista Prof. Rodrigues Lapa
disse, em entrevista ao vespertino A Tarde, de 25 Agosto 1983:
"A crise cultural depende, em
boa parte, da crise política que estamos atravessando. 0 País vive um dos
períodos mais dramáticos da sua longa história, assinalado pela corrupção do
carácter e promoção de falsos valores.
Com estes ingredientes nocivos como pode florescer a cultura?"
Porém, o grande e irreversível pecado
do actual regime foi a precipitada entrega das nossas Províncias Ultramarinas -
e assim, subitamente, reduzindo Portugal a 4 por cento do seu anterior
território, com afronta a cinco séculos de história! - Ler 0 Fim Histórico de
Portugal, do historiador Doutor Amorim de Carvalho, há pouco falecido. E causaram a miséria e fome a largos milhões
que eram então Portugueses: brancos, mestiços e pretos.
Agora, reduzido a 4 por cento, quanto
valerá Portugal no contexto europeu?
Certamente mais que a Galiza, mas talvez menos que a Catalunha; aliás,
em vários domínios (produtos agrícolas, inclusive), já estamos a ser invadidos
pelos Espanhóis: oxalá que não venha a colonização cultural.
Em conclusão: do confronto acima
evidenciado, resulta que o Estado Novo foi muito melhor que o regime anterior -
e muitíssimo melhor que o actual.
E, pois, honroso ter servido o Estado Novo - e até porque Salazar era
bem exigente com os seus colaboradores, como sabido é. Felizmente, só poucos dos que então serviram
o Estado Novo procuram ocultar essa circunstância (ou por fragilidade de
espírito, ou por vontade de conseguir vantagens no actual regime). Aliás, o povo aprecia é que os antigos
servidores de Salazar, natural e honradamente, se afirmem como tais e prestem
homenagem à sua obra, sem paralelo nos últimos anos de Portugal. Por mim, quando me perguntam se depois do 25
de Abril não mudei pelo menos um pouco..., costumo responder que sim - e até
mudei bastante: quando secretário, era 80 por cento salazarista; agora,
realmente mudei, mas para 99 por cento.
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