domingo, 14 de setembro de 2014

Erros numa obra sobre o Nacional-Sindicalismo

Erros numa obra sobre o Nacional-Sindicalismo

Por Barradas de Oliveira (in “A Rua”, 19/04/79)

Foi pena que o dr. João Medina, ao esforçar-se em carrear materiais para uma série de artigos sobre história contemporânea, agora reunidos em volume (“Salazar e o fascismo”), visse os seus trabalhos coroados por um livro descuidado, cheio de inexactidões e sem mostras de compreensão do meio e das circunstâncias em que os factos ocorreram e as pessoas agiram. Poderia ter feito uma obra útil. Saiu-lhe um panfleto atrabiliário. O Nacional Sindicalismo aparece ali como construção delineada em abstracto, como se não fora, e na realidade foi, uma resultante das condições políticas e sociais daquele princípio dos anos trinta. O próprio dr. Rolão Preto, que tão amavelmente recebeu o autor na sua quinta da serra e lhe concedeu longa entrevista, aparece como figura contraditória e tristemente confusa. Monsaraz, o heróico e sacrificado Monsaraz, poeta e jornalista, cuja saúde e cuja fortuna sofreram com o serviço do seu ideal, é tratado como se fora um sujeito de segunda ordem.

Tiveram os dois nacionais sindicalistas, mesmo assim, muita sorte no tratamento, o que não sucedeu com Salazar, que é crivado de epítetos desagradáveis. Gomes da Costa, o mais prestigioso dos generais portugueses do seu tempo, que escrevia bem e deixou páginas de merecimento, e que pintava talvez com desvelo igual ao que o dr. João Medina empregará nas suas colagens, Gomes da Costa é apelidado de “pobre tarimbeiro”. E o dr. Manuel Anselmo é tratado desta maneira elegante: "Um antigo revolucionário convertido à Revolução Nacionalista e desde então transformado em peniculário desta".

Deixemos isso e vejamos algumas das inexactidões.

A pág. 12: “…Rolão Preto, inspirando-se nos fascismos europeus e nas experiências próximas dum Onésimo Redondo, dum Ledesma Ramos ou dum José António Primo de Rivera (fundador da Falange em 1933, associando-se então aos dois precedentes, todos eles mortos aliás durante a guerra civil em Espanha), criara em 1932 a especial dissidência integralista conhecida por Nacional Sindicalismo…”

Corrigenda: A iniciativa da criação do Movimento Nacional Sindicalista partiu de um grupo de estudantes de Lisboa, que em 15 de Fevereiro de 1932 lançara o jornal Revolução, “diário académico nacionalista da tarde” e, em face do ambiente de adesão entusiástica encontrado, resolvera primeiro alargar o âmbito do jornal e, depois, lançar a organização, elegendo dirigente principal desta a pessoa que já havia chamado para director do jornal.

Houvera, anteriormente a esse jornal e por via de outro, contactos entre jovens desse grupo de estudantes portugueses e os espanhóis da “Conquista del Estado”, jornal que foi a da organização criada em 1931 por Ledesma Ramos e que em Fevereiro de 1934 se fundiria com a Falange espanhola para dar origem à F.E. de las J.O.N.S. Esses contactos, porém, cortaram-nos os portugueses em face da tendência iberista dos espanhóis. Estes não tiveram nenhuma influência no aparecimento do Nacional-Sindicalismo português.

Ainda a pág. 12: “…no diário Revolução, o qual, editado por José de Almeida Carvalho e tendo como redactores António Pedro, Chaves de Almeida, Alberto de Monsaraz, António Tinoco e outros, passaria a ser dirigida pelo próprio fundador do movimento a partir de 28 de Maio de 1932…”

Corrigenda: o diário Revolução aparecido em 15 de Fevereiro de 1932 tinha como redactores: António do Amaral Pyrrait, António Pedro, António de Sousa Rego e Dutra Faria. Eram estes os nomes que figuravam no cabeçalho e ali continuavam quando em 14 de Março o jornal aumentou de formato. Em 30 de Abril anunciou a suspensão para reaparecer em 14 de Maio, dirigido pelo dr. Rolão Preto, que já vinha, desde alguns dias antes, a firmar os artigos de fundo. Reapareceu, porém, só em 28 de Maio.

A decisão de aumentar o jornal em número de páginas e diversificação de secções foi tomada pelo grupo fundador que não era apenas constituído pelos cinco que figuravam no cabeçalho. Entendeu-se que o ambiente encontrado exigia um jornal maior e para a direcção deste um nome já consagrado.

Foi em 19 de Julho que um artigo de Rolão, com o título "O Nacionalismo Sindical" a toda a largura da 1ª página, apontava para um sentido de organização. Em 22, e também a toda a largura da 1ª página, pela primeira vez, a expressão Nacional Sindicalismo a apoiar uma atitude do dr. Ribeiro Cardoso. A sugestão do nome, que seria o do Movimento, partiu de António Pedro, que, por sinal, era ao tempo chefe da redacção do jornal.

Isto é dizer: Rolão Preto não foi um nacional-sindicalista influenciado por espanhóis, italianos e alemães, que apareceu como tal a fundar um jornal e organizar um movimento político. Foi antes um nacionalista chamado por um grupo de rapazes a dirigir um jornal que eles fundaram e depois escolhido também por eles para chefiar um movimento político que foi obra do entusiasmo de todos.

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